Confronto entre Policiais e Protestantes na Dutra

A via Dutra ficou interditada por uma hora ontem durante mais um protesto contra a tarifa do transporte público em São José dos Campos. O bloqueio teve início às 20h47 na altura do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). Homens do Grupo de Controle de Distúrbios da Polícia Rodoviária Federal (equivalente à Tropa de Choque da PM) usaram bombas de gás para dispersar os manifestantes, que revidaram atirando pedras e fogos de artifício. A rodovia também foi bloqueada ontem na altura de Caçapava por um outro protesto. Esse foi o terceiro bloqueio da rodovia em São José em apenas uma semana. Na noite de terça-feira, a estrada ficou parada por quatro horas e no dia 20, por cinco.

A manifestação começou mais uma vez com uma passeata, que levou cerca de 2.000 pessoas às ruas da região central de São José. O Movimento Passe Livre (MPL) reivindica a redução da tarifa do transporte coletivo para R$ 2,80, valor que vigorava até fevereiro, quando ocorreu o último reajuste. O prefeito Carlinhos Almeida (PT) já descartou essa possibilidade, alegando que o corte sugerido pelos manifestantes comprometeria o “equilíbrio financeiro” do sistema. O preço da passagem sofreu duas reduções nas últimas semanas. A primeira, de R$ 3,30 para R$ 3,20, se baseou nas desonerações de impostos concedidas ao setor pelo governo federal; a segunda, de R$ 3,20 para R$ 3, foi anunciada após pressão popular.

O prefeito se transformou no alvo principal do protesto de ontem. Foi tema de faixas, cartazes e versos entoados pelos manifestantes (como “Se o povo tá na rua, a culpa é sua”). “Este é um momento mais esperado entre o povo, que pede redução da passagem”, disse a arte finalista Paula Fernanda, 38 anos, que protestava ao lado do filho de 8 anos. A passeata começou na praça da Igreja Matriz, passou pela Secretaria de Transportes pasta responsável pelo transporte coletivo e parou no Paço Municipal. Em todo o trajeto, O VALE registrou cenas de vandalismo, como destruição de lixeiras e pichações.

“Vamos continuar protestando até a tarifa cair para R$ 2,80”, afirmou Paulo Monteiro, 24 anos, porta-voz do Movimento Passe Livre. Dos manifestantes que iniciaram o protesto, cerca de 300 seguiram para a via Dutra após a parada no Paço. O MPL não reconhece essas pessoas como seus membros. Um grupo de aproximadamente 200 manifestantes interditou a via Dutra ontem, no trecho de Caçapava, por cerca de três horas e meia, em mais um dia de protestos na cidade. O bloqueio atingiu os dois sentidos da rodovia e teve início por volta das 18h30, na altura do quilômetro 127.

Segundo a concessionária NovaDutra, mesmo meia hora após o fim da interdição, o congestionamento sentido Rio de Janeiro chegava a seis quilômetros, ‘invadindo’ o trecho de São José dos Campos. Já na faixa para São Paulo, o congestionamento era de oito quilômetros, também ‘invadindo’ o trecho de Taubaté. Já em Jacareí, cerca de 200 manifestantes fizeram ontem uma passeata pelas principais ruas da região central. O protesto era por redução na tarifa de ônibus, melhorias no transporte público e na saúde. Não houve registro de ocorrências durante o manifesto.

Anteontem, moradores de outras cinco cidades da RMVale também saíram às ruas para protestar.
Em Pindamonhangaba, cerca de 200 manifestantes interditaram a Via Dutra por aproximadamente três horas, provocando um congestionamento de 15 quilômetros. Em Cachoeira Paulista, onde também houve bloqueio na rodovia, um motociclista se feriu após um acidente ele não conseguiu frear a tempo e colidiu com um carro. Os outros protestos foram em São Sebastião, Guaratinguetá e Ilhabela.

Custo final da operação Pinheirinho chegará a R$100 mil

A Operação Pinheirinho terá um custo final de pelo menos R$ 109,4 milhões, sendo mais de R$ 103 milhões dos cofres públicos. O levantamento feito pelo O VALE com base em dados oficiais mostra que o maior investimento será na construção das moradias para abrigar as famílias do acampamento: R$ 88 milhões.

Até que o conjunto habitacional fique pronto, os sem-teto vão receber um ‘aluguel social’ de R$ 500 mensais que vai atingir a cifra de R$ 9 milhões em 18 meses prazo previsto para a construção.

Somente na ação de desocupação da área foram investidos mais de R$ 5 milhões na mobilização e infraestrutura aos policiais e aluguel das máquinas para demolição das casas. No abrigo aos desalojados foram gastos cerca de R$ 3,5 milhões.

O VALE considera como operação o planejamento, desocupação, abrigo e programas habitacionais para a dar solução ao caso. Júlio Aparecido da Rocha, presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São José, considerou o custo alto, mas necessário.

“A minha preocupação é com a fila da habitação que será furada, mas isso é necessário”, afirmou.  A planilha considera itens como a diária que será paga aos 850 policiais de outras cidades que participaram da ação por terem se deslocado de suas sedes.

Dona do terreno, a massa falida da Selecta gastou cerca de R$ 4 milhões com a estrutura da PM, demolição e mudança dos móveis. A prefeitura mantém em sigilo o dinheiro empenhado para abrigar as 1.200 pessoas que estão nos abrigos. Empresas do setor estimam que esse custo varie de R$ 3 milhões a R$ 3,5 milhões.

A prefeitura vai gastar ainda com o pagamento de horas extras a servidores. O impasse envolvendo o Pinheirinho poderia ter sido resolvido sem a retirada dos moradores, prejuízos aos cofres públicos e privados ou intervenção do poder público.

É o que afirma o advogado André Albuquerque, fundador da empresa Terra Nova, com sede no Paraná, especializada em regularização fundiária. Segundo ele, vereadores de São José o convidaram em 2008 para analisar o caso do Pinheirinho. Entre os parlamentares que fizeram o convite estava o Robertinho da Padaria (PPS), que teve sua padaria incendiada após conflito.

“Analisei a situação, fiz um projeto e uma reunião com líderes do movimento e representantes da massa falida, que estavam interessados na questão. Essa etapa levou cerca de dois anos”, disse.

“Mas a reunião mais importante que foi marcada na Câmara, em 2010, foi boicotada pelos líderes do movimento, que disseram que não iriam fazer acordo nenhum, muito menos para os moradores terem que pagar por suas casas. Estava todo mundo na reunião, menos os moradores do Pinheirinho”, acrescentou.

De acordo com o pré-projeto que ele havia elaborado, cada família iria pagar entre R$ 3.000 e R$ 6.000 pelo lote de suas casas, com prestações entre R$ 60 a R$ 100 por dez anos.

A maior parte do valor seria repassado à massa falida proprietária do terreno. Com o acordo firmado, morador iria pagar sua casa e empresa receber seu dinheiro, a Justiça que estudava o processo de reintegração da posse dava o caso como encerrado.

O Vale

PMs em 40 minutos dominaram área do Pinheirinho

A desocupação do acampamento sem-teto do Pinheirinho, na zona sul de São José dos Campos, teve início às 6h10 de ontem e mobilizou um contingente de mais de  2.000 policiais. O clima de guerra tomou as ruas que dão acesso ao acampamento e bairros da zona sul. Uma pessoa foi baleada e internada no Hospital Municipal. Pelo menos, mais duas sofreram ferimentos leves. Dez veículos foram queimados.   Até as 18h, 18 pessoas haviam sido detidas.

A PM chegou em comboio por volta das 5h30 e cercou todos os acessos ao Pinheirinho. Os sem-teto anunciaram a chegada da polícia com fogos de artifício. Estrategicamente, ao invadir o acampamento,  a PM prendeu quatro lideranças do sem-teto e encaminhou ao plantão do 3 Distrito Policial, na região sul.

A Tropa de Choque rapidamente foi dominando as quadras dentro do acampamento, isolando as ruas. As pessoas foram orientadas a ficar em casa. Numa tentativa de reação, alguns moradores atearam fogo em barricadas, mas foram rendidos com bombas e balas de borracha.

Segundo a PM, a ocupação teria sido feita em 40 minutos. A reportagem estima que o domínio do acampamento teria ocorrido por volta das 7h30, uma hora e 20 após a chegada. Moradores afirmaram que policiais foram violentos e atiraram bombas de efeito moral dentro das casas, colocando as crianças em risco. Alguns moradores afirmaram ainda que os dois helicópteros que participavam da operação também arrremessaram bombas de efeito moral.

“Ficamos rendidos dentro de casa. O choque ocupou todas as ruas. Nem deu tempo para a resistência. Levaram o meu pai e mais cinco pessoas presas”, disse a estudante Milena Pereira, 19 anos. Por volta das 9h30, alguns moradores começaram a deixar o Pinheirinho. “Jogaram bomba de gás perto do meu bebê, saímos correndo”, disse Larissa da Silva, 19 anos.

O Vale

Bairros vizinhos mudam suas rotinas por medo

A possível reintegração de posse da área do acampamento sem-teto do Pinheirinho, na zona sul de São José, gerou pânico na vizinhança. Em bairros como o Campo dos Alemães e o Residencial União, os moradores temem que o confronto entre os sem-teto e a Polícia Militar extrapole os muros da ocupação, onde vivem hoje cerca de 5.500 pessoas.

“Tenho medo que o pior aconteça”, disse a dona-de-casa Cristina Santos, 42 anos, que tem pais e sobrinhos vivendo como vizinhos ao acampamento. “O melhor é ficar dentro de casa e com os portões trancados. Não sabemos em que situação essas famílias irão deixar o local.”

Muitos vizinhos do acampamento não deixam mais os carros nas ruas, e comerciantes planejam baixar as portas dos seus pontos em caso de conflito. “Pedi aos meus clientes não deixarem o carro parado aqui em frente”, disse Valdemir Oswaldo, 48 anos, dono de uma funilaria.

“A gente tem medo que grupos de vândalos coloquem fogo nos carros dos clientes como forma de protesto.” Ele lembrou que os constantes protestos dos sem-teto tem deixado toda a região em clima de guerra. “A gente se sente amedrontado a cada manifestação. Ontem o trânsito foi interditado. Temos medo de que alguns grupos saiam quebrando tudo pela frente.”

No Residencial União, a situação não é diferente. Comércios estão baixando as portas mais cedo. “Sabemos que haverá confronto e já estamos fechando mais cedo”, disse o Carlos Andrade, 22 anos, que teme pelo comércio de sua família e também pela vida dos próprios moradores do acampamento.

“A gente espera que nada de ruim aconteça. Tem gente boa lá dentro. Alguns já trabalharam com a gente, mas é preciso resolver essa situação.” Na manhã de ontem, os sem-teto bloquearam a avenida do Imperador, no Campo dos Alemães, em frente ao Pinheirinho, por cerca de duas horas entre às 9h50 e às 11h45, horário em que foi realizada uma assembleia.

Com o uso de pedras e um caminhão, a via sentido bairro foi totalmente bloqueada levando os motoristas a buscarem um trajeto alternativo, inclusive os ônibus públicos. Lideranças sem-teto reconheceram o clima de terror na vizinhança. Mas afirmaram que as famílias do Pinheirinho também estão com medo.

“Todos estão com medo dessa carnificina. É uma insanidade uma desocupação como essa porque essas 9 mil pessoas irão ficar no entorno desses bairros sem ter onde morar”, disse o advogado dos sem-teto, Antonio Donizete Ferreira.

Para o líder dos sem-teto, Valdir Martins, o Marrom, o clima de terror não foi gerado pelo Pinheirinho, mas pela prefeitura, “que se recusa a colaborar para que o local se transforme em um bairro”.

O Vale

Famílias resistem e enfrentam PM na batalha do Pinheirinho

Os sem-teto do acampamento do Pinheirinho, na zona sul de São José, montaram uma operação de guerra para resistir à possível reintegração de posse da área, ocupada desde 2004. Ontem, um oficial de Justiça notificou os moradores a deixarem a área imediatamente. Mas, no acampamento, a ordem é resistir.

O entorno do acampamento foi cercado com lanças de bambus e o único portão de acesso ao local foi mantido trancado, com dez homens controlando a entrada e saída de moradores. Atualmente, cerca de 5.500 pessoas vivem no Pinheirinho.

Todos os acessos às ruas do acampamento foram bloqueados com trincheiras construídas com chapas de madeira, telhas, pneus e tambores. E para dificultar ainda mais a ação da Polícia Militar, algumas vias internas foram fechadas com sofás e cadeiras. A entrada em cada um dos setores do local tem que ser autorizada.

Por todo o acampamento era possível observar moradores com armas improvisadas, como porretes de madeira com prego nas pontas, barras de ferro, facões, espetos, enxadas, machados, pedras e estilingues.
No local, o clima é tenso. E a presença da polícia no entorno fez algumas famílias deixaram a área, levando apenas os filhos e alguns pertences.

Um grupo de moradores realizaria rondas pelas ruas do acampamento durante toda a madrugada. Líder dos sem-teto Valdir Martins, o Marrom, afirmou que o único plano é a resistência. “As famílias não têm para onde ir. Nenhuma opção de moradia foi oferecida a elas”, disse.

Ele acredita que se a polícia invadir a área haverá derramamento de sangue. “As famílias irão resistir até o fim. Marrom descartou utilizar crianças, idosos e mulheres como barreira humana. Segundo ele, todo o grupo será alojado em uma igreja construída no acampamento. A estimativa é que cerca de 350 pessoas articulam a resistência.

O clima de guerra não assusta a maior parte dos moradores. “Eu acho que temos de insistir, porque pobre precisa de moradia. Eu mesmo não tenho para onde ir se a polícia me mandar embora”, disse a dona de casa Maria Gonçalves de Jesus, 75 anos.

A dona de casa Joelma Almeida Silva, 22 anos foi uma das primeiras a chegar ao alojamento improvisado, junto com os dois filhos. Chorando, ela disse que não tem para onde ir com sua família. “Aqui igreja eles tem que nos respeitar, e não podem nos atacar. Não tenho para onde levar os meus filhos.”

O Vale