Bairros vizinhos mudam suas rotinas por medo

A possível reintegração de posse da área do acampamento sem-teto do Pinheirinho, na zona sul de São José, gerou pânico na vizinhança. Em bairros como o Campo dos Alemães e o Residencial União, os moradores temem que o confronto entre os sem-teto e a Polícia Militar extrapole os muros da ocupação, onde vivem hoje cerca de 5.500 pessoas.

“Tenho medo que o pior aconteça”, disse a dona-de-casa Cristina Santos, 42 anos, que tem pais e sobrinhos vivendo como vizinhos ao acampamento. “O melhor é ficar dentro de casa e com os portões trancados. Não sabemos em que situação essas famílias irão deixar o local.”

Muitos vizinhos do acampamento não deixam mais os carros nas ruas, e comerciantes planejam baixar as portas dos seus pontos em caso de conflito. “Pedi aos meus clientes não deixarem o carro parado aqui em frente”, disse Valdemir Oswaldo, 48 anos, dono de uma funilaria.

“A gente tem medo que grupos de vândalos coloquem fogo nos carros dos clientes como forma de protesto.” Ele lembrou que os constantes protestos dos sem-teto tem deixado toda a região em clima de guerra. “A gente se sente amedrontado a cada manifestação. Ontem o trânsito foi interditado. Temos medo de que alguns grupos saiam quebrando tudo pela frente.”

No Residencial União, a situação não é diferente. Comércios estão baixando as portas mais cedo. “Sabemos que haverá confronto e já estamos fechando mais cedo”, disse o Carlos Andrade, 22 anos, que teme pelo comércio de sua família e também pela vida dos próprios moradores do acampamento.

“A gente espera que nada de ruim aconteça. Tem gente boa lá dentro. Alguns já trabalharam com a gente, mas é preciso resolver essa situação.” Na manhã de ontem, os sem-teto bloquearam a avenida do Imperador, no Campo dos Alemães, em frente ao Pinheirinho, por cerca de duas horas entre às 9h50 e às 11h45, horário em que foi realizada uma assembleia.

Com o uso de pedras e um caminhão, a via sentido bairro foi totalmente bloqueada levando os motoristas a buscarem um trajeto alternativo, inclusive os ônibus públicos. Lideranças sem-teto reconheceram o clima de terror na vizinhança. Mas afirmaram que as famílias do Pinheirinho também estão com medo.

“Todos estão com medo dessa carnificina. É uma insanidade uma desocupação como essa porque essas 9 mil pessoas irão ficar no entorno desses bairros sem ter onde morar”, disse o advogado dos sem-teto, Antonio Donizete Ferreira.

Para o líder dos sem-teto, Valdir Martins, o Marrom, o clima de terror não foi gerado pelo Pinheirinho, mas pela prefeitura, “que se recusa a colaborar para que o local se transforme em um bairro”.

O Vale