A Azul Linhas Aéreas prevê utilizar biocombustível em seus voos comerciais dentro de cinco anos. Este é o prazo estimado para a homologação do produto feito à base de cana-de-açúcar, fruto de uma tecnologia desenvolvida pela Amyris.
Ontem, o biocombustível foi testado em um voo da aeronave E-195, da Embraer, que partiu do aeroporto de Viracopos, em Campinas, para o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, como parte das ações do evento de sustentabilidade Rio+20.
A tecnologia da Amyris, fruto de investimento de US$ 500 milhões, utiliza microorganismos que atuam convertendo o açúcar da cana em hidrocarboneto e é capaz de reduzir em até 82% a emissão de dióxido de carbono em relação ao querosene convencional.
“Esse voo é o ápice desse projeto iniciado em 2009, um marco para a aviação mundial”, disse o diretor de Relações Institucionais da Azul, Adalberto Febeliano. A Embraer, além da parceria com Azul, Amyris e a fabricante de motores GE para o voo de ontem, atua em outras frentes para atingir maior índice de sustentabilidade em suas aeronaves.
“A aviação é responsável por apenas 2% da emissão de dióxido de carbono no mundo, mas é uma indústria que está crescendo e que vai continuar crescendo. Por isso, houve compromisso de se reduzir a emissão de poluentes”, disse o diretor de desenvolvimento tecnológico da Embraer, Jorge Ramos.
O compromisso da indústria aeronáutica é reduzir em até 50% a emissão de poluentes na atmosfera até 2020 com base nos índices de 2005, considerando o aumento da frota de aeronaves no mundo.
“São várias frentes para atingir esse objetivo. Temos projetos estruturais, uma busca pela eficiência operacional com sistemas que viabilizem a operação de menor consumo de combustível. Outra frente é na construção da aeronave, com sistemas mais eficientes, perfis aerodinâmicos e materiais que deixem essas aeronaves mais leves”, disse Ramos.
Uma dessas ações é o LEL (Laboratório de Estruturas Leves), situado no Parque Tecnológico de São José no qual a Embraer faz o papel de empresa integradora. No local são desenvolvidas tecnologias para utilizar materiais cada vez mais leves na construção dos aviões.
“O LEL está no foco da construção de uma aeronave mais leve e vai permitir que todas as empresas aéreas façam seus exercícios e soluções com essas tecnologias mais leves”, afirmou Ramos. Sem citar números, o executivo salientou que para a nova família de E-Jets remotorizados, com previsão de entrada no mercado em 2018, haverá “ganhos substanciais em termos de redução” de emissão de poluentes.
A Embraer está envolvida em pelo menos outras quatro frentes para a pesquisa de biocombustível. Na maior delas, atua com a norte-americana Boeing e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) na elaboração de um estudo voltado para identificar todas as possibilidades de biomassa a serem empregadas como combustível.
A cana-de-açúcar, usada no voo de ontem, já é utilizada pela indústria do açúcar e do etanol, o que poderia criar uma disputa interna pelo produto e elevar os custos do combustível para aviões, hipótese descartada pelo diretor da Azul.
“O custo do biocombustível é compatível com o do querosene tradicional. Não vejo risco na safra da cana-de-açúcar maior do que o risco político no Oriente Médio, que eleva o preço do barril de petróleo”, disse Febeliano, ressaltando que existem outras possibilidades a serem estudadas.
“Temos milhões de pastos degradáveis que poderiam ser convertidos na produção de cana. Ainda temos cartas na manga e muitas possibilidades”, afirmou o diretor da companhia aérea. O voo de aproximadamente 50 minutos partiu de Campinas por volta do meio-dia e teve a composição de 50% de querosene convencional e 50% de biocombustível, batizado de AMJ 700.
O Vale