A tarifa de R$ 3 que é cobrada atualmente para andar de ônibus em São José dos Campos não condiz com o serviço oferecido. Essa é a opinião de usuários que precisam todos os dias do transporte público para chegar ao trabalho, andando em veículos superlotados isso quando conseguem embarcar. Na sexta-feira, a reportagem de O VALE embarcou com dificuldades, às 7h40, na linha 311, que liga o Campo dos Alemães ao Jardim Aquarius. Essa linha é muito utilizada por empregadas domésticas que moram na região sul e trabalham na região oeste, área nobre.
Quem consegue entrar no ônibus precisa “se apertar” para que o motorista consiga fechar a porta. Muitas pessoas não conseguem atravessar a catraca e tem que passar o dinheiro, de mão em mão, até chegar ao cobrador para pagar a passagem e poder descer pela porta da frente. “Todo o dia é a mesma coisa das 6h30até às 8h30. É gente em cima do motorista, do cobrador”, reclama a auxiliar de serviços gerais Lúcia Aparecida, que sai do Campo dos Alemães para trabalhar no Carrefour.
A doméstica Maria de Fátima Alves Moreira faz coro às reclamações e diz que “pagar esse preço de tarifa para andar apertado, não dá”. “A prefeitura precisa melhor o serviço, colocar mais ônibus, ter mais horários e baixar a passagem”, afirma. No ônibus, há uma placa pequena que informa que a capacidade do veículo é de 40 passageiros sentados e 45 em pé. Mas a realidade é bem diferente. O motorista vai parando de ponto em ponto, pedindo para as pessoas se apertarem e enchendo o ônibus além da lotação máxima para conseguir carregar o maior número de pessoas que esperam nos pontos. “A gente já chega cansada para trabalhar”, completa Maria de Fátima. Do Jardim Aquarius, a reportagem foi de ônibus até a Eco (Estação de Conexão) do bairro Campos de São José, na zona leste, bastante criticada pelos usuários.
Na avenida Francisco José Longo, embarcou na linha 341B a auxiliar de limpeza Alexandra Campos. Ela conta que “de manhã e no final da tarde, é uma luta conseguir entrar no ônibus”. O estudante Lucas Fernando, que também mora no Campos de São José, participou na quinta-feira do protesto organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) para reivindicar melhorias para o transporte. “A Eco é desorganizada, os ônibus demoram e as linhas são mal distribuídas para atender os bairros da região. Acho que a passagem está muito cara para um serviço que não é bom”, afirmou. O aposentado Francisco Amorin, que estava na Eco esperando um ônibus para ir até o Santa Cecília 2, diz que “não está certo” São José ter o mesmo preço da passagem de São Paulo. “A cidade é menor, a gente anda menos e tem que pagar o mesmo preço.”
Por meio de sua assessoria de imprensa, o secretário municipal de Transportes, Wagner Balieiro, informou que compreende as críticas da população, “considerando que o sistema de transporte da cidade estava há muito abandonado”. “Nossa primeira ação ao assumir a Secretaria foi priorizar o transporte público, e acreditamos que em breve a população vai sentir a qualidade do sistema”, declarou. Ao anunciar a redução da tarifa de R$ 3,20 para R$ 3, no último dia 20, Balieiro chegou a colocar em dúvida os investimentos e melhorias programados para o setor. A prefeitura ainda está estudando o impacto que a redução da passagem causou no sistema. Neste ano, entraram em operação 51 novos ônibus da CS Brasil e 40 da Expresso Maringá. O processo de concorrência no transporte público, realizado em 2008, determina que as empresas concessionárias devem que renovar a frota a cada cinco anos. A prefeitura também está implantando corredores exclusivos de ônibus na cidade.
O Movimento Passe Livre vai panfletar hoje na Feira do Jardim Colonial em busca de mais adesões à causa que defendem: a redução da tarifa de ônibus de R$ 3 para R$ 2,80. Ontem à tarde, o movimento fez uma reunião aberta no Parque Santos Dumont para avaliar os três atos realizaram nessas últimas semanas e preparar o próximo ato, agendado para terça-feira. Dessa vez, a Guarda Municipal não fechou o parque para impedir que eles fizessem a reunião, como aconteceu no último dia 14, quando o MPL tentou usar o local para organizar o primeiro ato.
Cerca de 70 pessoas participaram da reunião. Eles avaliaram a questão do vandalismo, como conseguir que mais pessoas participem do movimento e que novas ações deve ser feitas para a redução da tarifa. Nos três atos, o MPL fez com que o comércio do centro da cidade fechasse as portas mais cedo, com medo de vandalismo. Eles também pararam a via Dutra, principal rodovia do país, por cerca de dez horas, nos três atos.