Pela primeira vez na história do ITA (Instituto Tecnoló-gico de Aeronáutica) após regime militar, os alunos da entidade paralisaram as atividades em protesto contra a qualidade de ensino. A paralisação foi realizada ontem, das 8h às 12h, e contou com a adesão de 90% dos alunos e professores, segundo informou o presidente do CASD Centro Acadêmico Santos Dumont, Marcus Gualberto Ganter de Moura. O ITA possui cerca de 600 alunos e 150 professores em São José dos Campos. A paralisação de ontem foi aprovada em assembleia geral extraordinária do CASD, realizada na semana passada entre os alunos. Os alunos não participaram das atividades e apresentaram aos professores os pedidos de melhorias no ensino.
O presidente do Centro Acadêmico disse que os alunos estão desmotivados com o ensino oferecido pelo ITA. “Nós queremos que melhorem a didática de ensino, permitindo que os alunos realmente aprendam engenharia”, disse Ganter a O VALE. Em texto divulgado pelo CASD, os alunos afirmam que “são diversos os problemas que freiam a instituição e a mantém presa ao passado e a impedem de ser na prática, e não apenas na reputação, uma instituição de verdadeira excelência”, segundo texto da nota. O texto afirma também que “dentre os problemas está um sistema de avaliação coercivo, que, devido a regras e amarrações nas normas do ITA, cria um ambiente propício para abuso de poder, prática de injustiça e terror psicológico de professores para com alunos. Os alunos do ITA pedem a volta do Sistema de Aconselhamento (que existe no MIT), considerado fundamental na formação dos engenheiros e mais transparência na divulgação das notas.
“O ITA está com o programa de expansão, que prevê a duplicação do número de vagas. e outras inovações. O modelo atual possui falhas que queremos corrigir em conjunto com a administração, o quanto antes. Se não, passaremos de 600 alunos, para 1200 desmotivados”, disse Ganter. O reitor do ITA, Carlos Américo Pacheco, disse que a instituição está aberta ao diálogo com os alunos e que há o interesse das duas partes em buscar a qualidade de ensino na instituição. O ITA foi criado em 1950, para ser um centro de excelência universitária aeroespacial. A entidade está sob a responsabilidade direta do Comaer (Comando da Aeronáutica).
A instituição tem um dos vestibulares mais difíceis do país. Os cursos oferecidos são de engenharia-aeronáutica, eletrônica, mecânica- aeronáutica, civil- aeronáutica, computação e aeroespacial. Para o vestibular 2014, o ITA aumentou de 130 para 180 o número de vagas oferecidas. Serão 170 vagas para civis e 10 para militares. O reitor do ITA, Carlos Américo Pacheco, negou ontem ações coercitivas da direção sobre os alunos e disse que há um diálogo maduro entre as partes. Ele não considerou o protesto como uma paralisação, mas sim como uma reunião onde alunos e professores puderam expor seu pontos de vista para buscar a melhoria da qualidade de ensino.
O reitor disse que convidou os professores para participar da reunião com os alunos. “Acho que foi um agenda positiva. O que os alunos querem é o que nós queremos, ou seja, discutir mecanismos que busquem o avanço institucional, buscando a melhoria do ensino”, afirmou. Segundo Pacheco, o ITA é uma escola mais rigorosa do que as demais, que exige um rendimento muito alto dos alunos. “Algumas medidas que os alunos reivindicaram são difíceis de serem feitas, como a demissão de professores. As decisões tem que ser bem ponderadas, respeitando a tradição do ITA e suas peculiaridades”, disse o reitor. Para buscar as melhorias de ensino no ITA, foi formada uma comissão entre alunos, professores e direção.