O arquiteto Oscar Niemeyer, que morreu nesta quarta-feira (5), aos 104 anos, fez o projeto dos dois principais institutos do país ligados a ciência e tecnologia aeronáutica – ambos estão instalados em São José dos Campos (SP) há mais de 60 anos.
Ele projetou parte dos prédios do atual Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), considerada uma das principais universidades de engenharia do mundo.
Os prédios – que chamam atenção pela simplicidade além da iluminação e ventilação naturais – sofreram poucas mudanças desde a sua construção e estão em processo de tombamento pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Temos muito orgulho e honra de ter refererências das obras de Niemeyer no DCTA e no ITA. Acreditamos que o tombamento é uma forma de garantir legalmente que as obras dele serão preservadas”, afirmou ao G1 a tenente do DCTA Gabrielli Dalavechia.
O Iphan informou que as obras de Niemeyer já são consideradas patrimônios provisórios e que o processo de tombamento – que envolve mais de 24 obras em todo país – não tem prazo para ser concluído. O estudo teve início em 2007.
História
A concorrência para construção do DCTA, na época Centro Técnico Aeroespacial (CTA), foi aberta pelo governo no final da década de 40 como primeiro passo no objetivo de criar uma indústria nacional de aviação. A disputa para escolha do projeto foi fechada, de acordo com as regras definidas na época, e o escritório de Niemeyer venceu a concorrência entre cinco projetos apresentados para desenhar o complexo.
Dois anos após o concurso e com a posse do presidente Eurico Gaspar Dutra, houve um problema político: Niemeyer, um comunista, não poderia ficar à frente de um projeto da Aeronáutica. A solução para manter os projetos foi contratar outro escritório de arquitetos onde trabalhava Rosendo Mourão, ex-estagiário de Niemeyer.
“Eu tinha carta branca para fazer o que eu quisesse, porque os militares confiavam em mim e até preferiam quando eu não pedia ajuda a Niemeyer. Mas, por respeito a ele, segui todo o projeto à risca. Ele era uma pessoa muito boa. Me ensinou muita coisa”, disse Rosendo ao G1. Segundo ele, Niemeyer era acessível e brincalhão. “Às vezes ele dormia na minha casa em São José para explicar mais sobre a obra do DCTA, escondido, com medo de ser preso pelos militares”, disse.
Prédios
Segundo o DCTA, entre os principais projetos do arquiteto estão o complexo do ITA, o Túnel de Vento do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), o Laboratório de Aerodinâmica, alojamento de estudantes e a moradia dos militares.
“O projeto do CTA foi um laboratório para Niemeyer construir anos depois Brasília, que segue o mesmo conceito de cidade-jardim, ou seja, os edifícios são projetados para estar em harmonia com a natureza e tudo que ela oferece. O interessante é que ele pensou tudo isso na década de 40, quando o conceito de sustentabilidade ainda não existia”, disse ao G1 Ademir Pereira dos Santos, de 49 anos, professor de História e Teoria da Arquitetura da Universidade de Taubaté (Unitau).
O prédio que mais chama a atenção e foi apelidado de ‘Elefante Branco’ pelos moradores é o hangar utilizado pelos alunos de engenharia do ITA. Grande e com uma forma curiosa e cobertura de arcos de concreto, o prédio fui projetado, segundo historiadores, para permitir a entrada e saída de caminhões, máquinas e aeronaves. “O partido foi explorar as características estruturais do arco para se obter o maior vão livre possível, no sentido vertical e horizontal”, diz Ademir em seu livro ‘Arquitetura Industrial’.
Mudanças
Nos últimos 50 anos, as residências e alojamentos foram os que mais passaram por reformas, segundo o DCTA, que informou também que faz o possível para não alterar os projetos originais elaborados por Niemeyer. “Os traços das fachadas desses edíficios marcam muito a linha e estilo seguidos pelo Niemeyer. É uma visão interessante e diferente para a época”, afirmou ao G1 o historiador Donato Ribeiro, de 57 anos.
G1 (Vnews)
Publicado em: 06/12/2012