O discurso oficial ainda tenta fugir de datas, custos e meios para consolidar a solução. O motivo? “Precisamos de diagnósticos, estudos”, afirma o prefeito eleito de São José dos Campos, Carlinhos Almeida (PT). Os problemas da cidade, contudo, são reais. E precisam de planos detalhados e bem elaborados para que sejam resolvidos.
Presentes nas promessas de campanha e também na ponta da língua dos moradores de São José, cinco gargalos da cidade se colocam como desafios imediatos ao novo prefeito eleito. Saúde e Segurança Pública lideram as queixas entre os moradores da cidade. Transporte público aparece logo abaixo, como um dos grandes gargalos de São José.
O risco iminente de demissões na GM e a queda de investimentos que geram empregos na cidade são outros dois assuntos que influenciam diretamente a vida do cidadão. Uma outra discussão vital para definir os rumos de São José é o zoneamento.
Todos os temas foram amplamente debatidos durante a campanha. As promessas foram diversas. Eleito, Carlinhos firmou compromissos em todas as áreas. Na Saúde, prometeu um mutirão para zerar as filas por cirurgias e consultas.
Na área de Transportes, 100% de integração –ou seja, permitir que um usuário se utilize de mais de um ônibus em qualquer sentido, dentro de uma carência de duas horas, pagando somente uma tarifa. Para garantir empregos, promete facilitar a vinda de empresários a São José.
No zoneamento, diz que defende mudanças. “Hoje, você tem comércios e indústrias com dificuldade de se instalar em São José por conta da lei de zoneamento”. Porém, afirma que será a sociedade que decidirá ou não por mudanças. Por fim, defende novas parcerias com comunidades terapêuticas para retirar usuários de drogas das ruas.
Na última semana, O VALE cobrou do prefeito eleito detalhes sobre suas propostas. Carlinhos evita comentar números. Mais concretamente, dois compromissos: em janeiro, no seu primeiro mês de governo, os mutirões para zerar a fila por consultas e cirurgias começam. Integração 100%? “Ao longo do primeiro ano”, afirmou.
SAÚDE
Benedita Quintino dos Santos Fernandes, 66 anos, desde 2009 esperando por uma operação para corrigir um erro médico na retirada de dois nódulos. Maria do Rosário Faria Sales Leite, 50 anos, também há quase quatro anos esperando por um procedimento cirúrgico para diagnosticar por que sofre fortes dores abdominais. Um quadro preocupante, segundo os moradores de São José. Para eles, a Saúde é o principal problema da cidade, conforme pesquisa O VALE/Mind realizada no final de agosto –40% dos entrevistas responderam que a Saúde é o primeiro gargalo a ser enfrentado pelo novo prefeito. Atualmente, segundo números da prefeitura, são pelo menos 2.000 pessoas na fila por uma cirurgia na cidade.
TRANSPORTES
Com 630 mil habitantes, São José tem aproximadamente 350 mil veículos em circulação, entre carros, motos e caminhões. Os números retratam a opção do joseense pelo transporte individual no veículo automotor: dos mais de 1,2 milhão de deslocamento diários feitos na cidade, 49% são realizados por carros. Nesse universo, o transporte coletivo é a opção em 25% dos deslocamentos, enquanto 22% são feitos a pé. Por quê? Um dos motivos, conforme debatido na campanha, é a falsa integração do transporte coletivo. Na existente, o usuário pode se utilizar de mais de um ônibus, dentro de uma carência de duas horas, pagando só uma passagem apenas em sentido único. Em São Paulo, o roteiro é livre.
EMPREGOS
O começo do ano que vem promete um cenário preocupante. Quase 2.000 trabalhadores da GM, em São José, podem ser demitidos em janeiro quando finda acordo entre a montadora e o sindicato para garantia dos empregos considerados como excedentes na planta. Para alguns, o caso GM é só a ponta de um iceberg. Durante a corrida ao Paço, não faltaram afirmações por parte dos candidatos de que São José é, atualmente, uma cidade engessada para o crescimento. Verdade ou não, também não faltam empresários reclamando das burocracias oficiais para a abertura ou ampliação de empresas. Nos últimos anos, ainda, a cidade deixou de gerar empregos ao ver indústrias optando por outras cidades.
ZONEAMENTO
Construtores veem uma cidade engessada por causa da Lei de Zoneamento de 2010 que restringiu a construção de empreendimentos em áreas já adensadas de São José. Especialistas, contudo, defendem que o município adote medidas severas para parar o crescimento, pensando na qualidade de vida. Empresários do setor afirmam que o setor está retraindo, deixando de gerar empregos. Moradores de áreas com muitos prédios temem a ampliação zonas com pouca iluminação e ventilação, aumentando riscos de problemas sanitários. O assunto é controverso. Cresce ou não? As críticas se estendem ainda aos critérios da lei que estabelecem contrapartidas viárias aos empresários, que seriam subjetivas.
SEGURANÇA PÚBLICA
Fantasmas, aparecem e somem num piscar de olhas. Magros e maltrapilhos, podem ser vistos em qualquer horário do dia, principalmente na região central. À noite, multiplicam-se, ao se espalhar ao longo da orla do Banhado. Admitem sem pudor: “É o crack”, aos mostrarem as pontas dos dedos carcomidas e dispararem frases rápidas e desconexas. A polícia afirma: 70% dos homicídios são causados por causa das drogas. Só em São José, foram 48 de janeiro a agosto. A violência, inclusive, é o segundo problema mais preocupante da cidade, segundo os moradores afirmaram em pesquisa O VALE/Mind, atrás apenas da Saúde. Para especialistas, combater as drogas e tratar os dependentes é de suma importância.
O Vale
Publicado em: 15/10/2012