Passado um mês famílias permanecem em casa condenada

Um mês depois da chegada dos primeiros invasores, casas condenadas no Rio Comprido, na zona sul de São José, continuam ocupadas por dezenas de pessoas desalojadas da antiga ocupação do Pinheirinho.

O êxodo dos sem-teto rumo aos imóveis localizados em área de risco no bairro começou na manhã do último dia 25 de janeiro, quando um grupo de ex-moradores do Pinheirinho, insatisfeitos com os abrigos oferecidos pela prefeitura, dirigiu-se ao Rio Comprido.

Dias depois, no começo deste mês, era possível contar cerca de 40 famílias nas casas condenadas. Na última quinta-feira, a reportagem de O VALE voltou ao bairro e viu que muitos ainda estão lá. Pelo menos 15 imóveis mostravam sinais de ocupação.

Fazem parte do grupo de invasores famílias que não se cadastraram para receber o auxílio moradia, pessoas que encontram dificuldades em conseguir o benefício e outras que já receberam o aluguel social, mas sustentam ter dificuldades em encontrar imóveis.

“Vamos ficar aqui até quando der. Nós não conseguimos casa para alugar”, afirmou T., que preferiu não ter o nome identificado para evitar retaliações. Ela não realizou cadastro junto à prefeitura, quando da reintegração de posse do Pinheirinho no último dia 22 de janeiro, ficando sem o direito de receber o aluguel social de R$ 500.

M., outro ex-morador do Pinheirinho que preferiu não se identificar, também não recebeu o auxílio moradia, instalando-se num imóvel no Rio Comprido. “Quando fui fazer meu cadastro, a assistente social me disse que eu estava me aproveitando do momento e que eu não era do Pinheirinho. Reclamei e agora estou esperando.”

M., que tinha comércio no Pinheirinho, improvisou um pequeno cômodo na casa que está ocupando no Rio Comprido para continuar vendendo bebidas e alimentos. “É de que tiro meu sustento.” Pai de uma filha e com a mulher prestes a dar a luz ao segundo filho do casal, P. também está instalado num imóvel do Rio Comprido. A família já recebeu o primeiro cheque do auxílio moradia.

“Estou atrás de casas, mas não encontro.” Em geral, os imóveis ocupados exibem grandes rachaduras, colunas estruturais danificadas e muito lixo e entulho no entorno. As casas foram abandonadas em janeiro de 2011, quando um deslizamento de terra matou cinco pessoas no bairro. Quase todas as construções já não contam com portas e janelas, que foram saqueados ao longo deste período.

No começo das invasões, o governo de Eduardo Cury (PSDB) prometeu realizar um trabalho social para retirar os sem-teto do Rio Comprido. No entanto, famílias que se encontram atualmente no bairro afirmam que até o momento não foram abordadas sequer uma vez por assistentes sociais da prefeitura.

O Vale

Famílias do Pinheirinho invadem casas condenadas

Ex-moradores do Pinheirinho invadiram 13 casas abandonadas em áreas de risco no Rio Comprido, zona sul de São José dos Campos.

Os móveis das famílias foram levados ao Rio Comprido por caminhões da Urbam (Urbanizadora Municipal). Os invasores afirmam que não têm para onde ir e já planejam reformar as casas, que foram esvaziadas em março devido ao risco de desabamento.

Os imóveis invadidos ficam na avenida Um, mesmo local onde cinco pessoas morreram em janeiro do ano passado, quando um deslizamento de terra derrubou quatro casas. Não havia nenhum impedimento para que as casas condenadas fossem reocupadas. Embora a maioria das casas tenha sido invadida ontem, algumas famílias chegaram ao local no domingo, assim que foram retiradas do Pinheirinho.

Já havia “gatos” e aparelhos ligados, como geladeiras. “Assim que houve a reintegração, já viemos pra cá. Precisa de alguns reparos, temos que pedir água emprestada para os vizinhos, mas pelo menos meus filhos têm um teto”, disse José Emílio Santos, 45 anos, com os cinco filhos e a mulher.

A maioria das casas está semi-destruída, já que a prefeitura começou a derrubar os imóveis, mas uma liminar da Justiça barrou a demolição. Regina Mendes da Silva, 43 anos, passou o dia retirando os escombros da casa onde pretende morar com o marido e seus nove filhos.

A estrutura do imóvel está intacta, mas não há portas ou janelas. “Precisa de uma reforma, mas enquanto não consigo mudar para um lugar melhor, aqui está ótimo.”

Por volta das 11h, a mudança se transformou em tumulto. Enquanto funcionários da Urbam ajudavam a colocar imóveis nas casas, uma viatura da Guarda Civil tentou impedir a ação. Após diálogo entre os guardas e moradores do Rio Comprido, foi decidido que os móveis ficariam guardados em casas regularizadas.

O Vale