Antigo bingo é usado como ‘cracolândia’ em São José

Um prédio abandonado na avenida Nelson D’Ávila, na região central de São José, virou ponto de consumo de drogas e moradia para os usuários. Hoje, cerca de dez pessoas vivem no local, incluindo uma grávida. A construção abrigava um antigo bingo, que foi desativado há quatro anos. Nos últimos dias, pessoas que passam pelo local têm observado movimentação intensa de usuários de drogas, que transformaram o prédio em uma ‘cracolândia’. Atualmente, o local funciona como um estacionamento informal, já que várias pessoas deixam seus carros na área do prédio. O frentista Elvis Freire, que tem 20 anos e trabalha em um posto de gasolina em frente ao prédio, é um dos motoristas que utiliza o local para estacionar o carro. Ele relata que quase teve o veículo roubado.

“Eu estava trabalhando aqui quando vi uma pessoa mexendo no meu carro. Fui ver o que era e ele estava tentando quebrar o vidro. E não foi só comigo que aconteceu isso”, afirmou Freire. O frentista disse também que existe um boato de que o prédio seria demolido para a criação de um hotel. A informação, por enquanto, não passa mesmo de um boato. “Faz algum tempo que escuto isso, mas até agora nada aconteceu.” O vendedor Erick da Silva, 26 anos, trabalha em uma loja de pneus que fica ao lado da construção. Ele disse que até o momento os usuários não causaram problemas para os clientes. “Estamos funcionando há uma semana e eles só entraram aqui para pedir água. Aí eles entram aqui, pegam a água e saem”, disse.

tentou conversar com os usuários de drogas que vivem no antigo bingo, mas eles não aceitaram. Sem novidade. Este não é o único ponto de consumo de drogas na região central de São José dos Campos. Na edição de ontem, O VALE mostrou a situação da rua Major Antônio Domingues, localizada próxima ao Banhado. Ali, moradores e comerciantes convivem diariamente com usuários. Outros locais conhecidos por receber usuários de drogas são o Viaduto Raquel Marcondes, fechado pela prefeitura, e o córrego da avenida Fundo do Vale, próximo ao Paço.

Nova Cracolândia é no Patrimonio Histórico da cidade

Um impasse entre prefeitura e proprietário permitiu que o prédio da antiga Usina de Leite Parahyba, patrimônio histórico de São José dos Campos localizado na zona norte, se transformasse na nova cracolândia da cidade. O prédio pertence ao complexo da Tecelagem Parahyba, que também inclui a Fazenda Sant’Ana do Rio Abaixo, e foi tombado pela prefeitura em 2004 a pedido da FCCR (Fundação Cultural Cassiano Ricardo).

A área pertence ao empresário Jayme Chede Filho. Segundo Oliveira dos Santos França, administrador do local e representante do empresário, a intenção era recuperar o prédio e transformá-lo em um empreendimento comercial. Mas o projeto foi barrado pelo processo de tombamento. “Não tem como fazer nada se o tombamento impede qualquer intervenção”, disse França. O empresário move uma ação na Justiça para reverter o tombamento.

Em entrevista a uma rádio da cidade, o prefeito Eduardo Cury (PSDB) disse que vai enviar agentes da vigilância sanitária e da fiscalização de posturas para avaliar a situação da área e tomar providências. “Podemos murar se for preciso”, disse Cury à rádio. A Secretária de Defesa do Cidadão informou que em maio de 2011 multou a propriedade pela falta de muro e alambrado. Com os juros o débito com o município já chega a de R$13.128.

De acordo com moradores, durante a noite o local é invadido por usuários de drogas, que causam transtornos. “É um entra e sai de gente aí a noite toda. Fazem barulho, quebram coisas, é uma algazarra”, disse o aposentado Adilson de Faria, 64 anos.

Além da bagunça, os dependentes ainda cometeriam roubos contra os moradores. “No último mês eu já contei uns 15 assaltos. O pessoal fica até com medo de sair a noite”, contou Geminiano dos Santos, 63 anos, síndico de um condomínio próximo.

As polícias Civil e Militar informaram que já fizeram operações no local para tentar inibir os crimes e a presença dos usuários. “A polícia vem e prende, mas passa um tempo e eles voltam tudo de novo”, lamentou Santos. O VALE esteve ontem no local e constatou a situação de abandono do complexo, que é tomado por lixo, entulho e pichações. Isqueiros e objetos usados para o consumo da droga estão por toda a parte.

O Vale

Viaduto fechado para colocar fim a cracolândia

A prefeitura de São José dos Campos decidiu fechar vãos sob viadutos e passarelas do município usados por dependentes químicos para o consumo de crack. O primeiro viaduto é o Raquel Marcondes, que liga o Jardim Paulista ao Centro. Já foi aberta uma licitação e até dia 6 de janeiro, a prefeitura recebe propostas.

O local é alvo de uma ofensiva da prefeitura e da Polícia Militar para coibir o uso de crack. Por isso, os dependentes já buscam outros locais para usar crack. Ontem, O VALE flagrou três homens usando crack embaixo da passarela Berenice dos Santos, que fica a menos de 500 metros do Raquel Marcondes e liga o Jardim Val Paraíso a Vila Bandeirantes, na região central.

“Já temos estudos e nas passarelas e viadutos em que constatarmos que há dependentes usando drogas, pediremos o fechamento”, diz João Francisco Sawaya, secretário de Desenvolvimento Social de São José dos Campos.

O custo da obra no Raquel Marcondes é R$ 57 mil e a abertura dos envelopes será feita também no dia 6 de janeiro. Caso não haja recurso, as obras devem começar em dois meses e o viaduto tem 30 dias para ser fechado após o início dos trabalhos.

A. 32 anos, é usuário de crack há quatro anos. Morador da zona sul, ele trabalhava com a construção civil e chegou a ganhar R$ 4 mil por mês. “Tinha um Polo e, depois, que comecei a usar crack, vendi. O dinheiro do carro eu torrei em um mês. Chegava a usar 50 pedras por dia.”

A conta seu drama pessoal com uma pedra de crack na mão. Após contar a história, ele desce a passarela Berenice dos Santos e se junta a outros dois usuários que o esperavam para usar crack. “Eu aproveito para fumar no intervalo do trabalho. Uso crack há 15 anos e no ano que vem, vou parar. Quero uma vida nova”, diz M, 27 anos.

Para Sawaya, 90% dos moradores de rua são usuários de crack. Quando um morador de rua é flagrado consumindo drogas, a prefeitura oferece um pacote de tratamento. “Temos 70 vagas para moradores de rua em uma clínica no Parque Interlagos. Após o tratamento, a pessoa ainda recebe um curso profissionalizante e uma bolsa-auxílio de R$ 516 por dois anos.”

Mas, segundo o secretário, nem todos aceitam o tratamento, que é voluntário na cidade. “50 pessoas aceitaram ser internadas. Temos vagas e se houver uma demanda maior, aumentamos”, afirmou.

O Vale