Após morar 40 anos em Diadema, na região Metropolitana de São Paulo, o aposentado Olices Bettiol, 68 anos, mudou-se em novembro do ano passado para São José. Ele queria trocar a violência da metrópole pela calmaria do interior. Não deu muito certo. “Já estou assustado por aqui também. A situação está ficando feia.”
Feia a ponto de Bettiol se lembrar de Diadema no começo do ano 2000, quando a cidade registrou 238 assassinatos. “A gente saía de casa e não sabia se voltava. Era realmente assustador. E isso, para mim, é o oposto da paz”, diz.
Diadema enfrentou o problema com medidas rígidas, como a lei fecha-bar, e investimento em projetos sociais e profissionalizantes, postura defendida pelo aposentado para as prefeituras do Vale. “No ano passado, Diadema teve 35 assassinatos. Olha quantas vidas foram salvas, principalmente a de jovens. A região pode ir por esse caminho”, diz.
A sensibilidade de pessoas como ele, gente simples e conhecedora da vida real, mostra caminhos seguros para alcançar a paz. Eles sabem porque vivem as experiências dia a dia, sem alarde ou conjecturas sociológicas. Levando nos ombros a filha Rafaela Lima, de 3 anos, pelas trilhas do Parque Santos Dumont, no centro de São José, a assistente administrativa Tatiane Silva, 28 anos, exercita a promoção da paz.
Ela brinca com a filha como se também fosse criança, alegre e espontânea. Sem restrições ou preconceitos. É a paz em estado bruto e genuíno. “Trabalho fora e minha filha acaba sentindo a falta dos pais. Nessas horas de brincadeira, a gente tem que se envolver mesmo, ficar com ela e não fazer mais nada”, conta Tatiane.
Um relacionamento maduro, compartilhado e sem crises exageradas de ciúme é a receita do eletrotécnico Douglas Aragão, 24 anos, e da bailarina Yasmin Felix, 19 anos, para encontrar a paz através do amor. “Sentar num banco da praça para namorar e conversar, sem pressa, é a melhor coisa para a paixão saudável”, diz ele. Para a namorada, que dança desde os 7 anos, as artes têm um papel fundamental na formação da cultura de paz. “Praticar a cultura faz a gente se sentir bem consigo mesma, e isso é vital para a paz.”
Descendo acelerado a rampa da pista de skate, o comerciário Renan Ribas, 20 anos, faz do esporte sua bandeira de paz. Skate, surf, futebol e até lutas marciais, segundo ele, podem tranquilizar o espírito. “Quem se dá bem no esporte não busca a violência.” A opinião é compartilhada pelos amigos Kauan Vital, 16 anos, e Luiz Santos, 20 anos, que também apostam nos esportes radicais como instrumento de paz.
O Vale