Com salários atrasados, cerca de 400 funcionários da Avibras, unidade da avenida Cassiano Ricardo, na zona oeste de São José dos Campos, ameaçam cruzar os braços a partir de hoje. Ontem, os operários aprovaram estado de greve durante assembleia realizada no portão da fábrica. O número representa 35% dos 1.200 trabalhadores que integram a empresa com unidades em São José e Jacareí.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, o salário deveria ter sido pago dia 30 de janeiro. A categoria também reivindica o pagamento das multas do atraso salarial desde 2011. “Não podemos permitir que uma empresa que está fechando negócios com a Indonésia e recebendo recursos do governo federal atrase os salários de pais de família, de trabalhadores”, disse Elias Osses, diretor do sindicato.
Ainda de acordo com o sindicato, a dívida referente ao mês de janeiro chegaria a R$ 3 milhões, já que cada metalúrgico recebe cerca de R$ 2.500 mensal. Caso o dinheiro não seja depositado hoje, os trabalhadores entrarão em greve por tempo indeterminado.
“É absurdo e inexplicável. Entra e sai mês e sempre ocorrem atrasos. Queremos conversar com a diretoria da fábrica. Assim não dá”, afirmou ele. Na unidade da Cassiano Ricardo fábrica quatro são feitas as montagens de viaturas e integração eletrônica e, atualmente, os funcionários trabalham na produção de quatro veículos para o Exército Brasileiro.
O problema com atraso no pagamento se arrasta desde 2011 quando a empresa ameaçou fechar as portas. O último atraso dos salários ocorreu em dezembro do ano passado. Na ocasião, 400 operários também cruzaram os braços. No dia seguinte à paralisação, a empresa fez o depósito, acabando com a greve.
Em agosto de 2011, a presidente Dilma Rousseff (PT) autorizou o pagamento de recursos na ordem de R$ 209 milhões para a Avibras R$ 45 milhões naquele mês e mais R$ 164 milhões em outubro do mesmo ano. O dinheiro faz parte do pacote de socorro à fabricante de materiais bélicos por meio do programa Astros 2020, orçado em R$ 1,2 bilhão e tido como a ‘salvação’ da Avibras, que em janeiro de 2011 havia dispensado 170 funcionários por falta de encomenda no setor militar. O programa irá equipar o Exército Brasileiro. Segundo a empresa, o equipamento é uma evolução do conjunto lançador de foguetes livres Astros 2, o maior sucesso de vendas da empresa.
Procurada ontem pelo O VALE, a Avibras não retornou às ligações para comentar o atraso do pagamento dos funcionários. Até as 19h30 de ontem, não havia sido fechado acordo entre a Avibras e a direção do sindicato. Na última terça-feira, a Avibras comprou parte das ações e entrou no capital social da Harpia Sistemas, empresa da qual fazem parte a Embraer Defesa e Segurança e sua associada AEL Sistemas, subsidiária da Israelense Elbit Systems. A participação da Avibras será no desenvolvimento do mercado de aeronaves não tripuladas, os ‘vants’, como o Falcão.
A Avibras Aeroespacial fechou em novembro de 2012 contrato de US$ 350 milhões para vender 36 plataformas de lançamentos múltiplos de mísseis Astros 2 para a Indonésia. Trata-se do segundo grande contrato que a empresa fecha com compradores no exterior desde 2008, quando firmou uma venda de 18 sistemas Astros para a Malásia, por R$ 500 milhões.
O Vale
Publicado em: 08/02/2013