A Prefeitura de São José decidiu transferir os ex-moradores do Pinheirinho alojadas no ginásio do Caic do Dom Pedro 2º para outros abrigos municipais. O objetivo é liberar o prédio para o retorno escolar de cerca de 900 crianças. As aulas foram retomadas pela rede municipal no último dia 6, mas no Caic serão iniciadas com pelo menos uma semana de atraso.
No local, ainda vivem cerca de 50 famílias sem teto. Muitas delas não pretendem deixar o abrigo em razão da dificuldade para alugar um imóvel com o valor do auxílio-moradia oferecido pela prefeitura (R$ 500 por mês, mais cota única de R$ 500 a título de auxílio-mudança).
“Não adianta pegar o cheque se não temos para onde ir. Estamos procurando um lugar para ficar, mas não encontramos”, disse o desempregado Fabricio Silva de Souza, 25 anos. Junto com sua mulher e dois filhos, ele divide uma das 14 salas de aula do Caic.
Souza deve ser transferido para o ginásio de esportes Ubiratan Pereira Maciel, também no Dom Pedro, até amanhã. No local, vivem outras 32 famílias. Lá, a história de Souza irá se somar a de outras famílias abrigadas que afirmam passar pela mesma dificuldade.
No Jardim Morumbi, a situação se repete. O motorista desempregado Dirceu José da Silva, 48 anos, tenta, sem sucesso, encontrar um emprego e uma casa para morar. “Não tenho fiador e não consigo alugar uma casa. Também estou procurando emprego, mas eles tem preconceito com quem morou no Pinheirinho. O nosso medo é nos mandarem para a rua.”
Ao lado dos colhões de Dirceu, o jovem Bruno Fernando Ganso, 15 anos, enfrenta um outro desafio. Sozinho, ele acabou de passar por uma cirurgia de apendicite e depende dos cuidados de outros sem-teto para se recuperar. Sem poder se inscrever no programa do aluguel social, ele teme ser colocado na rua. A mãe está presa e ele não conhece o pai.
No abrigo, as críticas com relação à falta de infraestrutura continuam. Mães reclamam que não podem fazer a mamadeira de seus bebês e da falta de frutas e refrescos para os pequenos durante as tardes quentes. As crianças não entendem porque as piscina poliesportiva ficam trancadas. Procurada, a prefeitura não comentou os casos.
Ao todo, cerca de 200 famílias sem-teto ainda estão alojadas nos quatro abrigos públicos Caic e os ginásios esportivos do Dom Pedro 1º, Vale do Sol e Morumbi. O líder dos sem-teto, Valdir Martins, o Marrom, disse que a transferência das famílias reflete o despreparo da prefeitura no acolhimento. “É um absurdo transferir de um abrigo para outro. O acolhimento não foi preparado como disseram. Fizeram a desocupação as pressas e sem se preocupar com as pessoas.”
O Vale