Eles vivem sozinhos, não têm filhos, possuem poder de compra e consciência financeira, uma vez que não gostam de desperdício. Dão preferência a serviços práticos que agilizem o seu dia-a-dia. Ao mesmo tempo, estão abertos a novidades, não abrem mão de uma boa gastronomia e gostam de receber os amigos em casa, mas não querem perder tempo cozinhando. Esse é o mais “quente” filão do mercado: o do consumidor individual.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nos últimos dez anos o número de pessoas que moram sozinhas subiu em 71% e a tendência é continuar crescendo. Aliás, segundo dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) não só os solteiros fazem parte desse grupo, mas os divorciados e os idosos já representam 38,6% do total de 12 milhões de pessoas.
De olho nesse público, o mercado começou a se preocupar em criar produtos para esse novo perfil de cliente. A prateleira dos supermercados é a sua vitrine. “As mudanças demográficas, com as pessoas casando mais tarde, a inserção da mulher no mercado de trabalho e a elevação do número de pessoas morando sozinhas advindas de outras regiões para estudar ou trabalhar foram os fatores que determinaram um aumento na demanda por produtos tipicamente para pessoas que moram sozinhas”, afirmou Rodrigo da Silva Mariano, gerente de economia da APAS (Associação Paulista de Supermercados).
Fatias avulsas de pizza, legumes já picados, sanduíches prontos e frutas descascadas e cortadas, além de carnes embaladas em pequenas porções são alguns dos produtos que podem ser encontrados. A operadora de logística Fernanda Brandão Tobias, 27 anos, faz parte desse público há sete anos. “O grande problema de quando se mora sozinha é a preguiça de cozinhar. Então, é natural que se procure algo rápido para comer, prático e que não dê trabalho.”
O especialista em varejo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Daniel Plá, vê que o mercado pode ser ainda maior desde que as empresas saibam investir nesse público, que segundo ele cresce 15% a cada ano. “Algumas lojas já estão atentas para a produção de móveis em tamanho menor, planejados para espaços pequenos. Ainda de acordo com Plá, mesmo os restaurantes podem ganhar clientes oferecendo pequenas embalagens descartáveis em que eles podem levar a alimentação para casa.
Supermercados mudam a logística para atender o novo público. “Diminuímos as porções dos alimentos vendidos prontos com o intuito de atingir os pequenos núcleos familiares. Eles não queriam comprar, por exemplo, 1kg de lasanha. Então, pedimos ao fornecedor que diminuísse a porção para 500g”, disse Saulo Pereira, gerente do Villarreal.
Produtos em pequenas porções muitas vezes não compensam financeiramente. É o caso, por exemplo, do refrigerante. Dois litros custam em média R$ 5, já um litro pode sair por R$3. A APAS (Associação Paulista de Supermercados) nega que os preços sejam tão desinteressantes ao consumidor. No entanto, a embalagem pode ser o grande vilão do mercado.
“Percebo que ainda falta que o mercado adote algumas práticas. Ainda que o consumidor dê preferência à qualidade ao preço, o custo dos produtos não devem ser tão próximos, senão passa a não compensar”, afirmou Daniel Plá. Alguns solteiros arranjaram um jeito de economizar: comprar determinados produtos menos vezes ao ano. É o caso da funcionária pública Carla Lopes, 40 anos. Ela prefere adquirir um saco de 5kg de arroz a um de 1kg. “Acaba durando dois ou três meses.”
O Vale
Publicado em: 01/04/2013