Chineses tentam se acostumar com novos hábitos

Ainda tímidos, meio sem jeito, e ‘arrastando’ o português, os chineses começam a chegar na região para trabalhar em duas empresas que devem gerar milhares de empregos, a Chery, em Jacareí, e a Sany, em São José.

O número de chineses que virão ao Vale não foi divulgado pelas fábricas, mas estima-se que cerca de 3.000 virão inspecionar as obras e o início dos trabalhos até o final de 2013. A maioria deve trocar o país oriental pelo ocidental pelo período de três anos. E nesse prazo, terão que se adaptar aos costumes e à comida brasileira.

“O ambiente é muito bom”, disse pausadamente Zhou Jian, engenheiro de qualidade da Sany, 28 anos. Agora, ele é chamado de Victor, um nome de ‘guerra’, mais fácil de ser pronunciado pelos colegas na região. Da casa dos pais onde morava em Xangai –a maior cidade da República Popular da China e uma das maiores áreas metropolitanas do mundo, com mais de 20 milhões de habitantes direto para um apartamento no Jardim Aquarius, na região oeste de São José.

Há três meses na cidade, Jian já tem sua opinião. “É fácil morar aqui. As pessoas são muito simpáticas”. A maior dificuldade de adaptação apontada pelos chineses é a língua portuguesa. “É muito difícil de aprender e falar”, disse Jian, que há um mês faz aula particular com uma professora de português.

Mesmo assim, eles tentam se comunicar e fazer amizades em um país com costumes e tradições completamente diferentes com o que estavam acostumados. Eles foram buscar no esporte uma maneira de interagir entre eles e os moradores da região. Durante a semana, o ponto de encontro ocorre na praça Ulysses Guimarães, no Aquarius. Lá, eles jogam basquete e praticam corrida. “Aqui é um pouco quente. E aqui fora, o ar é fresco.

Gosto de ver as pessoas”, disse o engenheiro. O tempero brasileiro agrada uns e desagrada outros. “A comida é muito, muito diferente, tem muito tempero. Não gosto. Prefiro frutas como laranja, manga e limão”, afirmou Jian.

Já seu colega de corrida, Wang Ji, engenheiro da Sany, 28 anos, gostou de churrasco. “Adoro churrasco. É muito famoso, mas um pouco caro”, disse Ji, que não fala português e conta com a ajuda de Jian. Jian e Ji tentaram mostrar uns passos da dança, mas não levam muito jeito. Ji prefere música sertaneja. “Gostei de Luan Santana”, disse.

No Carnaval, alguns funcionários da Sany desfilaram no Escola Unidos do Álcool, cujo tema era a China. A Chery vai operar nos setores de funilaria, montagem e pintura e estará concluída no segundo semestre de 2013. Já a Sany, inaugurou em maio a linha de montagem de guindastes sobre caminhão.

De olho em uma das 3.000 vagas de emprego que devem ser abertas pela Chery em Jacareí, o bailarino Danilo Ferreira Barros, 28 anos, aproveitou o projeto da prefeitura da cidade em parceria com a Unesp (Universidade Estadual Paulista) e tratou de correr atrás de aulas de mandarim.

“Vi como uma boa oportunidade de melhoria de qualidade de vida e conseguir um emprego melhor”, disse ele. Dos seis exames de proficiência, aplicados no Instituto Confúcio, em São Paulo, Barros já foi aprovado em um com 190 pontos a prova valia 200.

Para ele, escrever é mais difícil do que falar. “É muito diferente, não tem conjugação. Tem que ter muita vontade e disciplina porque vale a pena. Tenho certeza que estou mais qualificado e capacitado para concorrer aos postos de trabalho”, afirmou o bailarino.

Para a professora de mandarim, Li Yingying, 24 anos, falar bem o chinês pode significar um trabalho melhor. “Acredito que uma pessoa pode ser mais competitiva se ela falar fluentemente tanto inglês quando chinês”, disse. Para concorrer a uma vaga, é preciso ter ensino fundamental completo. Segundo a Prefeitura de Jacareí, são nove módulos e 280 pessoas estão na lista de espera.

O Vale

Publicado em: 07/01/2013