Aviões, carros e capoeiristas. Nem só as indústrias e a alta tecnologia levam o nome do Vale do Paraíba para o exterior. Cada vez mais, uma atividade esportiva que já foi considerada desordem ganha o mundo e chama a atenção dos estrangeiros. Na região, a capoeira se tornou produto de exportação.
Centenas de capoeiristas do Vale percorrem o mundo abrindo academias e se apresentando em shows, programas de TV e filmes. Eles levam o gingado da capoeira e encantam os estrangeiros, que também visitam a região para conhecer a cultura dos capoeiristas direto da fonte.
Mas nem sempre foi assim. A capoeira já foi considerada atividade de bandidos e punida até com a morte. Ela chegou ao Brasil com os escravos africanos trazidos para a então colônia portuguesa entre os séculos 16 e 19. Era o meio de defesa deles e a tentativa de manter a cultura nativa.
Misturando diversas manifestações folclóricas africanas, a capoeira foi “gestada na África e parida no Brasil”, como resume José Antônio dos Santos de Almeida, 54 anos, o mestre Zé Antônio, do grupo Cordão de Ouro, de Guaratinguetá. Para ele, mais do que uma luta, a capoeira é uma “filosofia de vida, capaz de unir arte, dança e atividade esportiva e harmonizar corpo e mente”.
Começo.Desde os pioneiros baianos Vicente Ferreira Pastinha (1889-1981), o mestre Pastinha, e Manoel dos Reis Machado (1900-1974), o mestre Bimba, que chegaram a sofrer com a perseguição policial nas primeiras décadas do século 20, a capoeira vem rompendo fronteiras e derrubando preconceitos.
“A polícia perseguia um capoeirista como se persegue um cão danado”, narra Bimba nas páginas de ‘Conversando sobre capoeira’ (1996), livro de Esdras Magalhães dos Santos, 84 anos, o mestre Damião, tenente reformado das Forças Aéreas, advogado e um dos precursores da capoeira em São Paulo.
Ele veio da Bahia para São José dos Campos e tornou-se uma referência no Vale. Para ele, embora a capoeira seja uma só, ela tem diversas variações, desde a luta agressiva até o bailado alegre e descontraído que encanta os estrangeiros. “Pode jogar mais bravo ou para se deleitar”, explica.
Tradição. Com turnês anuais por diversos países da Europa e nos Estados Unidos, mestre Zé Antônio e o irmão Ponciano Almeida, trouxeram para Guará o Cordão de Ouro de mestre Suassuna, de São Paulo, em 1974. Desde então, vêm formando uma legião de professores que se espalha pelo mundo.
Atualmente em turnê pelos EUA, Everaldo Bispo de Souza, 59 anos, o mestre Lobão, celebra 41 anos de história da primeira academia de capoeira do Vale, a Besouro Mangangá, que ajudou a montar em São José, em 1971, com Damião e seu filho, Esdras Filho.
“O Vale tem excelentes mestres, mas temos que trabalhar com muita responsabilidade para que tenhamos capoeiristas de excelente qualidade. Aí sim estaremos bem representados lá fora”, afirma Lobão.
O Vale