O projeto inicial da termelétrica movida a lixo de São José, a URE (Usina de Recuperação Energética), permite a queima de outros combustíveis auxiliares, como o gás natural, para manter a planta em funcionamento.
Já controverso, o projeto passou a enfrentar ainda mais resistências de ambientalistas da cidade e membros do Comam (Conselho Municipal do Meio Ambiente) de São José após a divulgação da informação pela EBP (Estruturadora Brasileira de Projetos), empresa que confeccionou o projeto.
“Se ampliarmos nossa reciclagem e, consequentemente, o volume de lixo para a queima diminuir, a ‘lixoelétrica’ funcionará como uma termelétrica comum a gás natural, ampliando significativamente o impacto negativo sobre a população e o meio ambiente”, afirmou o professor do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), Wilson Cabral.
O governo Eduardo Cury (PSDB) minimiza a questão. “O projeto da prefeitura é indicativo. Não é projeto final. Vai passar pelo crivo da Câmara e vai ter edital que possibilitará discussões”, disse o secretário de Meio Ambiente, André Miragaia.
Ao estimar em 12 anos a vida útil do aterro municipal, localizado no Torrão de Ouro, zona sul, e alegando procurar uma solução ambiental mais correta para disposição do lixo, a Prefeitura de São José pretende instalar uma usina na cidade que, a partir de mecanismos modernos, vai separar e queimar parte do lixo, produzindo energia suficiente para atender 200 mil pessoas.
O projeto se viabilizará por meio de uma concessão. O governo Cury definirá os moldes de funcionamento da termelétrica e caberá a uma empresa privada arcar com os custos da construção da planta, estimados em R$ 200 milhões.
Em contrapartida, a empresa poderá comercializar a energia elétrica vinda do lixo. A concessão deve durar 30 anos. Desde maio do ano passado, a prefeitura mantém em consulta pública o projeto. Não há previsão para licitar o projeto.
Na época, ambientalistas conduziram calorosos debates em audiências no Comam com Miragaia. As críticas iam desde uma falta de políticas públicas na cidade priorizando a redução do consumo até o fato de que a cidade já possui o ar saturado, não suportando nova fonte poluidora.
No entanto, no começo do mês passado, a pedido do Comam, a EBP, empresa de capital de risco que encabeçou a confecção do projeto da URE e só será remunerada pelo serviço em cerca de R$ 1,5 milhão se o projeto prosperar, deu resposta à uma série de dúvidas.
A empresa disse na ocasião que “o combustível auxiliar considerado no projeto indicativo é o gás natural”, altamente poluidor, segundo os ambientalistas. O combustível auxiliar servirá, segundo a EBP, para eventuais paradas na produção da unidade e controle de temperatura de queima.
Miragaia garantiu que não existe a possibilidade de se utilizar o gás natural numa eventual falta de lixo, como teme Wilson Cabral. “Nossa proposta não é a de geração de energia e sim resolver o problema do lixo. A gente não trabalha com a hipótese do concessionário utilizar outro combustível além do lixo.”
Miragaia disse ainda que, enquanto ambientalista, também se preocupa com a utilização do gás natural, mesmo que só como combustível auxiliar. “Nossa indicação, e vamos tentar maneiras de que isso seja mais concreto, é que próprio gás metano que sai do lixo seja o combustível auxiliar.”
O Vale