Ao completar hoje 100 dias de governo, o prefeito de São José, Carlinhos Almeida (PT), admite que o primeiro ano de sua gestão será apenas para ‘arrumar a casa’ devido à dificuldade financeira que alega ter herdado da administração Eduardo Cury (PSDB). Em entrevista exclusiva a O VALE, o petista reclama do que classificou como “falta de planejamento” da gestão anterior ao não deixar verba para contratos já previstos.
“Neste ponto de vista, esperava um planejamento melhor. Não é uma crítica, mas uma constatação”, disse. No balanço, Carlinhos afirma que ter concedido o aumento de 17,86% na tarifa de ônibus foi a decisão mais difícil de sua vida, defende o reajuste de 103,9% no salário do vice-prefeito Itamar Coppio (PMDB) e reitera que pretende fazer uma nova Lei de Zoneamento.
Leia os principais trechos:
Que balanço o senhor faz dos 100 primeiros dias de governo?
Conseguimos algumas coisas muito importantes para a cidade. A primeira foi tomar providências para enfrentar o problema financeiro que encontramos, com arrecadação em queda. E temos este problema de que em torno de R$ 100 milhões de contratos já firmados não têm cobertura no orçamento. Com diálogo e tranquilidade, conseguimos rever alguns contratos e preparar a prefeitura e a cidade para passar este primeiro ano de dificuldade, vencer estas dificuldades e no ano que vem colher os frutos deste trabalho.
O senhor ficou surpreso com a herança que recebeu?
Alguns problemas foram uma surpresa para nós. Por exemplo, o fato de vários contratos não terem previsão aprovada no orçamento. Neste ponto, esperava um planejamento melhor. Não é uma crítica, mas uma constatação. Muitas coisas foram bem conduzidas pela administração passada, mas há falhas que vamos corrigir.
Como o senhor classifica a herança que recebeu?
Uma herança desafiadora. Nossa missão é superar os problemas que a cidade tem e apontar um caminho de desenvolvimento econômico para fazer com que as pessoas tenham acesso ao emprego e à renda e para que consigamos ampliar os serviços que já temos.
Quais as principais conquistas destes 100 dias?
Iniciar o mutirão da saúde, contratar depois de tantos anos a Santa Casa e contratar o GACC, que nunca havia sido contratado. Temos conseguido ampliar significativamente o número de vagas em creches e escolas. Conseguimos criar a Secretaria de Regularização Fundiária, que é uma coisa fundamental para resgatar dívida social que São José tem com os loteamentos irregulares, e a Secretaria de Promoção da Cidadania. Pela primeira vez, São José celebrou contrato do Minha Casa, Minha Vida para a faixa de 0 a 3 salários, que é quem mais precisa. E tivemos conquista de verba para o VLT, que marca uma nova relação de São José com o governo federal. Uma relação de colaboração, de cooperação, que em nada prejudica, da nossa parte, a relação com o Estado.
As parcerias com o governo federal se ampliaram em seu governo. Por que não havia isto antes?
Na transição, o prefeito Eduardo Cury me disse que São José já não tem a capacidade de investimento de antes. Então, entendo que é um imperativo para a cidade hoje fazer parcerias com os governos estadual e federal. Não tem faltado da nossa parte nem vontade nem iniciativa. Temos feito vários contatos e, se conseguirmos verbas, ampliaremos nossa capacidade de investimento.
Com o cenário de dificuldade financeira que o senhor encontrou, não foi um contrassenso dar aumento de 103% para o vice-prefeito?
O salário do vice, dentro do orçamento da prefeitura, tem peso ínfimo. Preferimos ser transparentes e dar remuneração que tenha sentido hierárquico. O cargo mais importante é o do prefeito. O segundo é o do vice, mas o salário estabelecido era igual ao de chefe de divisão. O princípio da hierarquia estava deturpado. São às vezes medidas que geram desgaste, mas alguém precisa ter a coragem de tomar.
Qual é o papel de Itamar Coppio no governo?
Vou dar um exemplo. O doutor Itamar foi fundamental no processo de convencimento dos hospitais para mutirão da saúde. Ele tem contribuído bastante para nossa gestão.
Ele cumpre horário?
Imaginando jornada de trabalhador de 40 horas semanais, diria a você que ele trabalha muito mais do que isto.
Por que a Santa Casa ganhou a maior parte das cirurgias do mutirão da saúde?
Abrimos um credenciamento, convidando hospitais filantrópicos. E até mesmo hospitais particulares poderiam ter entrado para fazer estas cirurgias. Nos dispomos a fazer mais de 4.000 cirurgias. Cada hospital entrou no credenciamento dizendo o número de cirurgias que se sente apto a fazer. A Santa Casa teve um número maior de cirurgias porque ela se dispôs a fazer um número maior.
Por que após oito anos a Santa Casa voltou a ter convênio com a prefeitura?
É um compromisso nosso não deixar um hospital de tamanha qualidade fora do arco de opções da prefeitura.
Por que o governo do senhor anunciou cirurgias que foram contratadas na gestão anterior?
O importante para mim é que as pessoas sejam atendidas. Fui ao Ministério da Saúde pedir recursos antes de assumir, em colaboração com o ex-prefeito, porque a minha preocupação não era comigo ou com ele e sim com as pessoas que precisavam das cirurgias. Todo prefeito que entra aproveita coisas que estão em andamento e modifica coisas que acha que não estão funcionando como deveriam. Com isto, a cidade avança.
Por que o governo decidiu fazer propaganda, gastando R$ 380 mil, de mutirão definido na gestão anterior?
O mutirão começou em janeiro com recursos públicos federais e municipais. Quanto à comunicação, é um dever do poder público informar a população, e é um direito da população ser informada daquilo que está sendo feito.
Por que o governo não segurou o aumento da passagem de ônibus, como fez Fernando Haddad em São Paulo?
Foi a decisão mais difícil que tomei na vida. Ninguém gosta de reajustar a passagem de ônibus e ainda com o índice que fizemos, que é um índice grande. Agora, o administrador tem que tomar medidas que muitas vezes são difíceis e duras, mas necessárias até para evitar problemas futuros. Como ficou dois anos sem reajuste, se não aumentássemos teríamos deterioração no serviço, queda de qualidade e certamente em abril, na data base, teríamos sérios problemas, inclusive com a possibilidade de paralisações e tumultos que prejudicariam a população.
Quanto a São Paulo, lá há subsídio. Sou contra. Temos que equilibrar o sistema. Assim que demos o reajuste, chamamos as empresas para estabelecer novos compromissos: renovação da frota, a volta dos articulados, integração 100% até novembro e identificação biométrica.
O Vale
Publicado em: 10/04/2013