Cidade tem uma Nova História com documentos

Documentos de brigas entre senhores de terra, disputa por escravos e inventários, entre outros processos que contam a história de São José dos Campos, estarão, em breve, a um clique da população. Cerca de 30 mil documentos do Fórum de São José, que estavam sob os cuidados do Arquivo Público, estão passando por higienização e, em breve, serão digitalizados.

O projeto chamado “Crime e Cidade: tensões do cotidiano em São José dos Campos do século 19 ao início do século 20”, foi criado pela historiadora Maria Aparecida Papalli, da Univap (Universidade do Vale do Paraíba). Com o patrocínio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o custo total do projeto é de R$208 mil. Destes, R$ 178 mil destinados a higienização desses documentos.

“São cerca de 30 mil documentos do Fórum que estavam sobre a tutela da Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Nós já sabíamos que a documentação estava sendo perdida, deteriorada pelo tempo. Então, criei o projeto e, após a limpeza das páginas, faremos a sua digitalização”, afirmou. O projeto faz parte do convênio Pró-Memória –que existe há 10 e foi renovado quarta-feira. O objetivo é preservar a memória histórica da cidade, facilitando o acesso aos documentos do Arquivo Público.

Um século de história estão registrados nos processos. “Há, por exemplo, um processo de um coronel que fez um empréstimo judicial de seus escravos por determinado tempo a outro coronel. No entanto, como a colheita de café passou do tempo previsto, este demorou a devolve-los. Então o dono dos escravos teve de ir à justiça para receber o tempo extra que eles ficaram na fazenda do outro”, conta Luíz Carlos da Cruz, escrevente e responsável pelo arquivo do Fórum.

Há ainda crimes, como um caso amoroso que terminou em crime passional. “Na ocasião, há 100 anos atrás, a menina morta tinha 16 anos. Então, imagino que foi um caso chocante para a população”, disse. Esse processos ainda hoje alguns voltam a tramitar. “São inventários, partilhas, separações. Há processos ainda não encerrados ou que precisam amparar outros que ainda estão em trâmite”, afirmou historiadora Nádia Kojio, especialista em organização e arquivos, do Arquivo Público.

Apenas três ou quatro gerações separam esses documentos do tempo atual. “Todo o mundo pensa em documentos antigos como depósito de coisas velhas, mas, na verdade, ele não é. Eles reorganizam todo o fluxo de documentos, não é a casa da memória simplesmente”, disse Nádia. Após todo o processo de higienização, eles serão levados em lotes para a Univap, onde serão digitalizados e disponibilizados virtualmente. “Eram documentos inacessíveis. Vamos encontrar muita coisa interessante, como processos trabalhistas das décadas de 1940 e 1950, época da consolidação da CLT”, disse Maria Aparecida.

Oito historiadores trabalham na higienização das folhas dos processos. Munidos de fitas adesivas específicas para arquivos, cola com ph neutro, tesoura, pincel, pano, tirador de grampo e espátula, os profissionais trabalham em cada uma das folhas dos processos. “A limpeza dos processos deve ser concluída em três meses. Temos de separar cada folha e, em algumas delas, as manchas absorvidas pelo papel e não saem mais. Então, as neutralizamos com ferro para deixa-lo livre de fungos e bactérias”, afirmou o conservador José Ribeiro, da Bibliátrica, empresa responsável pela higienização, e que já trabalhou na conservação de documentos do MEC. Todos os funcionários usam máscara, avental, luvas e toucas uma vez que o trabalho com papel é insalubre.

O Vale