Nos últimos dois meses, São José dos Campos acompanhou apreensiva as negociações entre o Sindicato dos Metalúrgicos e a direção da General Motors para a vinda de um investimento de R$ 2, 5 bilhões. Nos ônibus, supermercados, elevadores, a pergunta era a mesma: o acordo entre a GM e o sindicato foi aprovado? O ‘fantasma’ das 598 demissões, ocorridas em março, e o medo de que os trabalhadores não aprovassem a proposta para que a GM investisse na produção de um novo carro, o que poderia causar mais demissões, fizeram com que todos torcessem pela aprovação.
No centro das discussões, o presidente do sindicato, Antonio Ferreira de Barros, o “Macapá”, um figura tímida, mas “bom ouvinte”, como ele mesmo se define, que teve importante papel nessa negociação. Em entrevista a O VALE, ele falou sobre como foi chegar ao acordo com a GM e conseguir a aprovação em assembleia com os funcionários do complexo. Leia a seguir os principais trechos.
Como o senhor avalia a aprovação da proposta da GM em assembleia?
No dia seguinte da assembleia, eu fui numa concessionária de veículos na cidade e, chegando lá, fui abraçado por uma senhora porque conseguimos aprovar a proposta com a GM. Percebi que existia uma expectativa muito grande da cidade. Acho que o sindicato teve um grande acerto, defender os empregos na GM é defender a cidade.
O Sindicato dos Metalúrgicos sempre foi acusado de ter uma postura intransigente. O senhor, como presidente, está mudando esse perfil?
Eu não acho que o sindicato mudou de postura. Sindicato existe para defender o trabalhador. Numa negociação difícil como foi essa, é preciso fazer mediação. Nós buscamos um ponto menos desfavorável. Nós sofremos uma derrota, não foi bom o acordo, banco de horas não é saudável, as empresas não tem necessidade de rebaixar salários. Antes de tudo, o resultado dessa negociação foi um trabalho de equipe. Aqui quero falar da participação do Mancha (Luiz Carlos Prates) e do Toninho (Antonio Donizete Ferreira).
Como é o ‘presidente Macapá’?
Sou uma pessoa que procura ouvir, o mundo pode estar desabando e eu vou estar te ouvindo com tranquilidade, mesmo não concordando às vezes, consigo ouvir bem. Eu acho que se constroem grandes lideranças em momentos de conflitos grandiosos como esse que nós estamos atravessando aqui. Esse é o teste, ou você passa ou você se arrebenta.
O que o senhor achou do resultado da assembleia?
O trabalhador sabe que nós chegamos ao nosso limite. Na visão dos trabalhadores, para o que a empresa queria, do que foi o produto final da negociação, tiramos leite de pedra. Ficamos numa situação muito desfavorável. Poderíamos ter saído deste acordo numa situação muito pior do que esta aí. Nos últimos sete dias, foi uma pressão muito forte contra o sindicato. Nós chegamos para negociar na última segunda-feira numa situação muito complicada. A empresa chegou mais fortalecida. O sindicato não ia abandonar as negociações, porque essa não é nossa postura política. No fim, chegamos a um acordo que não foi para o trabalhador e nós falamos a verdade para eles. O acordo traz flexibilização, reduz direitos e rebaixa salários. Poderíamos mentir, mas a seriedade do sindicato é tão forte que a aprovação foi reflexo disso aí.
E as 750 demissões no MVA, linha de produção do Classic? Por que o sindicato não conseguiu reverter essas demissões que devem ocorrer no final do ano?
Em janeiro, fechamos um acordo com a GM que garante a produção do Classic até dezembro. Como todo acordo, pode ser prorrogado ou não. A fábrica nova vai ser construída no MVA, que vai precisar ser desativado para construir a nova fábrica. Nos últimos 18 meses, as negociações da GM são a nossa principal preocupação. Na semana que vem, vai ser aberto um Plano de Demissões Voluntárias. Hoje a empresa tem 130 aposentados e 900 no período de pré-aposentadoria. Se a GM quiser, ela aposenta todo mundo, como ela já fez no passado. Esse processo de negociação entre o sindicato e a GM continua. O PDV aberto para a fábrica toda. Nós vamos tentar negociar a transferência dos funcionários. Também garantimos neste acordo que os demitidos terão preferência no processo de seleção da nova fábrica em 2017. A luta pelos empregos continua.