Prefeitura do PT gera inimigos na cidade

O amplo arco de alianças costurado pelo prefeito eleito de São José dos Campos, Carlinhos Almeida, em torno de seu futuro governo já provoca reações contrárias dentro de seu partido, o PT. Isso porque a composição atraiu inimigos históricos da legenda.

Com esse cenário, militantes da ‘velha guarda’ querem garantir o controle de secretarias estratégicas na administração municipal e defendem limitações nas indicações políticas para cargos de confiança. Grupos ligados a movimentos sociais, lideranças de bairro e sindicatos querem ser ouvidos antes da formatação da nova equipe de governo.

O maior temor é a manutenção do sistema criado na gestão do PSDB, que permitiu o loteamento político dos cargos comissionados. Todos os partidos estão de olho na partilha dos quase 400 cargos de livre nomeação da administração direta, somados aos outros inúmeros cargos comissionados da administração indireta, como Urbam, Fundação Cultural, Fundhas e Organizações Sociais.

Um dos primeiros vereadores petistas de São José, Braz Candido, que atuou na Câmara entre 1982 e 1988, reconhece que a composição é necessária para garantir a governabilidade, mas diz que essa aliança não deve ser feita a qualquer custo.

“Se ele Carlinho não compor, não irá conseguir governar. Mas não será possível contentar todo mundo. Terá de ser feito um filtro técnico para a indicação de nomes”, disse. “O PT e os partidos que o apoiaram na eleição possuem quadros técnicos, e os novos que vierem ajudar devem ter responsabilidade com o novo governo”, afirmou.

O vereador Tonhão Dutra (PT) disse que o prefeito eleito deve estar atento. Ele espera que Carlinhos retome as plenárias partidárias e esteja próximo à base do partido. “Tem um pessoal que sempre foi oposição ao PT e bateu pesado. O Carlinhos tem que tomar cuidado com algumas lideranças que só querem barganhar cargos e que, daqui a três anos e meio, podem virar para o outro lado”, disse.

O coordenador da Central de Movimento Populares, Cosme Vitor, quer que o governo do PT rompa com a partilha de cargos. “Somos contrários à partilha política de cargos. Acreditamos que a escolha de pastas como Saúde, Habitação e Assistência Social deve passar pelo crivo dos movimentos populares. Não haverá restrição partidária, mas é preciso colocar alguém que saiba fazer.”

O deputado estadual Marco Aurélio afirma que o prefeito não é eleito só para administrar a cidade, mas também para ser um líder político e garantir sustentação na Câmara. “Não haverá governo 100% PT. Quando assumi pela primeira vez em Jacareí, houve certo desconforto entre militantes. Hoje a oposição virou a base”, disse ele, que governo a cidade até 2008.

Após a adesão fulminante do PSB e do PV, outros opositores históricos do PT como o DEM, PP e PPS também devem aderir ao governo Carlinhos Almeida. Os partidos consolidaram a base tucana por 16 anos. Carlinhos já conta com o apoio de seis vereadores eleitos por sua coligação: 4 do PT, 1 do PRB e 1 do PMDB. O PRP também já formalizou apoio.

O Vale

Publicado em: 05/11/2012