Cidade tinha guincho operando sem licença durante 21 anos

Há mais de 20 anos não é realizada em São José dos Campos licitação para definir quem deve fazer os serviços de guincho para órgãos oficiais como Ciretran (Circunscrição Regional de Trânsito)e polícias Civil e Militar.  O VALE apurou que o último processo licitatório ocorreu em 1991. Desde então, o trabalho é realizado por meio de contratos informais entre os delegados e as empresas que fazem esse tipo de serviço.

O acordo prevê que os pátios guinchem os automóveis apreendidos sem nenhum custo ao Estado. Em troca, adquirem o direito de cobrar dos proprietários a taxa do guincho e a diária de permanência nos locais. Se o veículo não for retirado no prazo de 90 dias, vai para leilão e a empresa também lucra com esse processo.

O problema é que, como não existe contrato oficial, as empresas não têm compromisso com delegacias e batalhões e podem se recusar a fazer o serviço quando não acharem vantajoso.  Situação que tem ocorrido com mais frequência com a lotação dos pátios devido à falta de leilões dos carros. Atualmente, os pátios Bola Branca e União estocam juntos cerca de 5.000 veículos.

“Hoje, a gente depende do fator sorte. Se achamos veículo abandonado em estrada rural com corpo abandonado dentro, o dono do guincho pode se recusar a buscar o carro e você não pode fazer nada, pois ele não é obrigado. É vergonhoso porque a gente tem que ficar pedindo favor pelo trabalho”, afirmou um delegado, que pediu para não ser identificado.

Constrangimento que atinge também a Polícia Militar.  “Se uma viatura nossa quebra, temos que mendigar favor ao dono do guincho para levar o veículo, pois não tem empresa credenciada para rebocar nossos carros”, disse um PM, que pediu para não ter o nome identificado.

O dono do pátio São Bento, que seria responsável pelo recolhimento dos veículos apreendidos pela polícia, alega que desde o início do ano não tem mais espaço. O local abriga 876 automóveis, mas desde 1995 não ocorre leilão.

“Os veículos que são apreendidos pela polícia em operações contra o crime organizado ou ligados a algum tipo de crime podem levar vários anos para ser liberados Tenho carros aqui encalhados há mais de 10 anos e que já viraram sucata”, disse o proprietário do Pátio Bola Branca, Álvaro Cesário da Conceição.

O outro pátio existente na cidade, o Auto Socorro União, localizado no Parque Industrial (zona sul), deixou de atender a polícia em 2007. No local, estão estocados cerca de 4.000 veículos. “Nosso contrato não prevê o recolhimento dos carros da polícia e, como não tínhamos mais espaço, optamos por deixar de fazer o serviço”, afirmou James Torres, advogado da empresa.

Atualmente, só atende ao Ciretran e é o único autorizado a recolher os veículos aprendidos por infrações de trânsito e falta de pagamento de tributos, como o licenciamento obrigatório. A exclusividade foi concedida em licitação em 1991 e desde então vem sendo prorrogada. “Quando a licitação foi feita, a lei não previa prazo para os contratos. Então, o serviço foi sendo prorrogado, já que conseguimos atender a demanda do órgão”, disse Torres.

O Vale

Publicado em: 17/10/2012