São José dos Campos, a cidade do robô

Daqui a algumas décadas, um vereador (se ainda houver o cargo) irá propor a troca do nome da cidade para São José dos Robôs. A justificativa: deixar o passado dos campos e saudar o futuro da automação. E nem é preciso esperar muito. As máquinas que funcionam quase sem a interferência humana já fazem parte da rotina da cidade.

Em escolas de São José, crianças aprendem noções de robótica a partir dos 6 anos, montando kits com brinquedos Lego. Os blocos se unem a motores para deleite dos pequenos. “A educação eficaz é aquela que consegue despertar em cada um a vontade de conhecer sempre mais, almejando um desenvolvimento integrado, constante e transformador”, disse Célia Terlizzi, diretora pedagógica do colégio Mater Dei.

Na escola, crianças de 10 a 13 anos ganham kits para montar robôs e usam o computador para programar o movimento das máquinas. As atividades são combinadas com disciplinas como matemática, ciências, artes e história a partir de aulas contextualizadas, aulas práticas e torneios. “O projeto Lego Education-Robótica ajuda no trabalho com competências e habilidades necessárias ao mundo de hoje: flexibilidade, trabalho em equipe, autonomia, postura empreendedora, responsabilidade e capacidade para resolver problemas”, afirmou Célia.

Nascido em São José, o astrofísico Nilton Rennó, pesquisador da Nasa (agência espacial dos EUA), é fã em especial de um robô chamado ‘Curiosity’ (curiosidade, em inglês). Lançado ao espaço em novembro de 2011, a máquina pousou no solo de Marte em 6 de agosto do ano passado.

“Foi como comemorar um gol numa final de Copa do Mundo, vencendo nos pênaltis”, disse Rennó. Sem robôs, lembrou o astrofísico, não haveria pesquisa no espaço. “As máquinas nos permitem explorações à distância e, no futuro, planejar uma visita tripulada à Marte.”

Os robôs não saem da cabeça de um grupo de jovens estudantes da Etep (Escola Técnica Professor Everardo Passos), de São José. Desde o começo do ano, eles se debruçam sobre o desafio de montar uma máquina capaz de coletar discos no chão e arremessá-los em ‘gols’ de alturas variáveis, durante 2 minutos, além de escalar uma espécie de pirâmide.

Trata-se do maior torneio de robótica do mundo, o First, que reúne 5.000 equipes do planeta se enfrentando em regionais nos Estados Unidos. Campeã em 2007 e no ano passado, a Etep Team 1382 viaja aos EUA em março para sua décima participação no torneio. A motivação: mostrar as soluções às outras equipes, trocar experiências e vencer.

“Lá fora, representamos o Brasil. O pessoal já nos conhece e vamos para a disputa”, disse a estudante Camila Aranha, 17 anos. Ela e outros 30 estudantes da Etep, com a ajuda de 20 monitores, estão na fase final da construção do robô. Um presente para o futuro.  O setor industrial é um dos segmentos que mais se apropriou da tecnologia dos robôs.

Eles estão nas montadoras de carros, na indústria aeroespacial e no setor metalúrgico em geral. Cortam, perfuram, montam, soldam e fazem ajustes finos com precisão absoluta e repetitiva. Em São José dos Campos, a Sobraer usa dois robôs para furar peças que serão usadas em estruturas de aeronaves.

A empresa começou a usar robôs em 2009. São dois braços robóticos que trabalham de forma colaborativa. Segundo o gerente de Processo da empresa, Luis Faria, os robôs são capazes de fazer um furo na peça cinco vezes mais rápido do que um operador humano. “A automação é fundamental no setor industrial. Os robôs vieram para ficar. Com eles, além da precisão, eliminamos a condição de fadiga inerente ao operador humano”, afirmou Faria.

O Vale

Publicado em: 11/02/2013