A Prefeitura de São José dos Campos mantém atualmente pelo menos 780 servidores em desvio de função ou deslocados por problemas de saúde para exercer atividades diferentes daquelas para as quais foram contratados. O número corresponde a 10% do total de funcionários 7.854 de carreira, segundo o atual governo.
A informação foi repassada aos dirigentes do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais durante reunião com representantes da administração Carlinhos Almeida (PT) para discutir aumento de salários e melhorias para o funcionalismo. Na última quinta-feira, o sindicato protocolou pedido de informações sobre o número de funcionários que trocaram de atividade por motivos de saúde e em quais setores eles atuam. A entidade também pretende solicitar explicações sobre os desvios de função. O desvio de função tem sido recorrente na Prefeitura de São José nas últimas.
O Sindicato dos Servidores já denunciou ao Ministério Público a existência de pelo menos 179 técnicos e auxiliares de enfermagem exercendo atividades incompatíveis com seus cargos, como servir café, atender na recepção e na cozinha e realizar testes de Papanicolau, o que seria atribuição dos enfermeiros. A denúncia foi acatada pela Promotoria, que abriu inquérito civil para investigar as supostas irregularidades.
“Já pedimos explicações à prefeitura sobre o número de funcionários readaptados por problemas de saúde e posteriormente pretendemos abordar a questão dos desvios de função”, afirmou a diretora do sindicato Zelita Ramos. Também dirigente da entidade, Donizetti Aparecido de Souza, o ‘Zetão’, citou como exemplos de desvio de função fiscais de posturas trabalhando em escolas e servidores da Secretaria de Serviços Municipais dirigindo tratores. “O sindicato sempre foi contra o desvio de função, que é algo preocupante no serviço público. Se houver casos em excesso, pode prejudicar o atendimento à população.”
Especialista em direito administrativo, o advogado João Fernando Lopes de Carvalho, que é de São Paulo, afirmou que os casos de desvio de função que atentam contra o interesse público ou contra os cofres públicos podem ser passíveis de ações de improbidade administrativa contra os gestores públicos. “A pessoa faz concurso público para exercer uma função determinada. Se há o desvio de função, ele tem que ser por um período curto. Não pode ser algo permanente, já que a gestão pública não deve ter espaço para improvisações”, afirmou o advogado. “Casos que atentam contra interesse público ou contra cofres públicos podem configurar improbidade.”
A Prefeitura de São José informou, por meio da assessoria, que atualmente existem 365 servidores em sistema de readaptação, mas não divulgou o número de casos atuais de desvio de função.“Atualmente existem 365 servidores em sistema de readaptação”, disse o governo Carlinhos Almeida (PT) na nota oficial encaminhada ao O VALE. “Inclusive sobre isto, a prefeitura vai realizar uma ata de registro visando a contratação de uma junta médica para avaliação de todos os readaptados com o objetivo de assegurar que os mesmos estejam realizando serviços compatíveis com suas restrições de saúde”, afirmou a prefeitura em outro trecho da nota oficial. Sobre desvios de função, o governo informou que “o número de servidores nesta situação está sob avaliação”.