Área desvalorizada chama atenção de Construtoras

A escassez de ‘vazios urbanos’ em regiões centrais de São José dos Campos e Taubaté motivou a indústria da construção civil a investir em áreas antes pouco valorizadas, nas periferias. Um exemplo desse processo é a área nas imediações do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Taubaté. Há 10 anos, a região da Vila São José convivia com o temor de rebelião, o que freava investimentos no local.

À época, um empreendimento com três torres foi feito na esquina entre a rua Vereador Rafael Braga e a avenida Santa Luiza do Marilac, com vista privilegiada do CDP. A funcionária pública Sandra Regina dos Santos, 48 anos, foi uma das pessoas que decidiu vencer o medo e comprar um apartamento do empreendimento.

“Medo a gente sempre teve, mas a violência está em todo lugar. Felizmente, nunca tivemos problemas”, disse Sandra, que comprou o imóvel em 2004. Ela lembra que para ir ao comércio precisava ir ao centro, pois não havia muita opção no bairro, o que mudou de três anos para cá.

Segundo pesquisa da Acist (Associação das Empresas Construtoras, Imobiliária e Serviços Correlatos de Taubaté), a região da Vila São José fica atrás apenas da Independência e Centro no número de empreendimentos em lançamento. São quatro, no total de 11 torres. As vias de acesso foram revitalizadas também com a construção do Sedes (Sistema Educacional de Desenvolvimento Social).

Em São José, o Jardim das Indústrias também ilustra este cenário. Hoje um polo consolidado com investimentos de alto padrão, teve que vencer certo preconceito no passado. “Quando a avenida Cassiano Ricardo foi melhorada e o Aquarius cresceu, aquilo que era longe, perigoso, passou a ficar perto. Quem poderia imaginar os empreendimentos que estão ali há 10 anos?”, disse o diretor regional do SindusCon (Sindicato da Construção), José Luiz Botelho.

Ele salienta que a chegada dos empreendimentos da construção civil geralmente são seguidos do fortalecimento da infraestrutura do local, o que gera crescimento de regiões antes esquecidas. “O empreendimento é que puxa a infraestrutura, o comércio começa a chegar. Há 30 anos, lançaram dois ou três prédios numa região onde havia uma dificuldade enorme para se vender. De repente, esse bairro se desenvolveu violentamente e virou o Aquarius”, afirmou Botelho.

Já o presidente da Aconvap (Associação das Construtoras do Vale do Paraíba), Cléber Córdoba, disse que as imediações da cadeia do Putim devem passar pelo mesmo processo do arredor do CDP. “É uma sequência natural com prédios para classe C e D.”

O Vale

Investimento de R$40 milhões em construção de escola

Duas megaescolas de ensino integral serão construídas em São José para atender cerca de 2.000 alunos em bairros da periferia. As obras devem ser iniciadas ainda nesse primeiro trimestre nos bairros Frei Galvão, na zona leste e no Parque Interlagos, zona sul. A estimativa é que as unidades funcionem em 2013.

O investimento previsto pela Prefeitura de São José, na ordem de R$ 40 milhões, é o maior do governo Eduardo Cury na construção de unidades de ensino. Em média o custo de uma escola convencional varia de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões. A implantação das Efeti (Escola de Formação em Tempo Integral) é promessa de campanha do prefeito Eduardo Cury. O tucano prometeu implantar 12 unidades em São José, mas apenas sete foram instaladas.

Segundo o secretário de Educação, Alberto Marques, a proposta original era adaptar prédios já existentes com ambientes pedagógicos e laboratórios, mas nem todas as escolas tinham espaço. “Optamos por projetar duas grandes escolas que não vão deixar nada a desejar para escolas americanas. Elas terão o dobro do porte para que os alunos possam estudar com o melhor que podemos oferecer.”

Segundo Marques, a escolha pelos bairros atende ao crescimentos das duas regiões que receberam conjuntos habitacionais populares. Com o dobro do tamanho 10 mil metros quadrados de construção, os custos também serão maiores. A estimativa é que sejam gastos R$ 2 milhões por mês para a manutenção de cada um dos prédios.

Cada Efeti irá oferecer 15 salas de aula e outros 15 ateliês com atividades específicas em áreas como comunicação, esporte e meio ambiente. Também está prevista a construção de teatros e ginásios cobertos. Para atender a jornada ampliada serão necessários mais 22 professores e seis estagiários.

O Vale

Levantamento aponta novas familias em bairros da periferia

São José está em franca expansão na periferia. Levantamento feito por O VALE mostra que as regiões leste, sul, norte e sudeste receberam cerca de 30 mil moradias nos últimos cinco anos. São 120 mil moradores que buscaram as regiões mais periféricas atrás do sonho da casa própria população que supera a de cidades como Guaratinguetá (112 mil), Caraguá (102 mil) e Caçapava (85 mil).

A nova periferia cresce em ritmo mais acelerado na região sul. São 16.559 novas moradias. Bairros consolidados como Colônia Paraíso, Jardim América e Parque Industrial receberam o maior volume de moradias. Mas é na zona leste que o impacto do adensamento é mais evidente. Topos de morro estão sendo ocupados por mega empreendimentos, alguns com mais de 400 moradias, como no Cajuru.

Ao todo, a região leste recebeu 5.921 novas moradias entre casas e apartamentos. O fenômeno também é visível na região norte. São mais de 4.000 moradias, a maior parte delas no Alto da Ponte e na Vila São Geraldo  bairros que carecem de equipamentos públicos. Na região sudeste, a situação não é diferente: só o bairro do Putim recebeu mais de 1.000 unidades.

Apesar de regularizados pela prefeitura e consolidados, muitos desses bairros ainda não possuem infraestrutura básica e esbarram na falta de UBS, escolas, creches, transporte público e áreas de lazer. No Jardim das Paineiras, na zona leste da cidade, mais de 1.300 pessoas se mudaram para o novo bairro há quase dois anos. São 340 moradias recém-instaladas.

O crescimento sobrecarregou a infraestrutura de serviços no entorno da região e a lista de reclamações é grande.
“O bairro não tem centro comercial, serviços públicos, iluminação, correio e sinalização de solo”, disse a dona de casa Vera Lúcia de Moraes, 42 anos. Escola, creche e UBS só nos bairros vizinhos como o Nova Esperança e Novo Horizonte, já saturados.

Sem áreas de lazer, as crianças do bairro têm que driblar a falta de espaço para brincar. “Parece um bairro clandestino. Falta creche, escola e o transporte é limitado”, disse o cobrador de ônibus Alessandro Luiz Rocha, 35 anos.

O vice-presidente da Aconvap, Francisco de Oliveira Roxo, confirmou o crescimento da periferia. “Houve consolidação dos grandes empreendimentos onde havia volume de áreas disponíveis e a preços atrativos.” Segundo ele, o poder público acompanha esse crescimento. “Mais gente morando no mesmo lugar implica novas linhas de ônibus, alargamento de avenidas e escolas. E o governo está atento a esse crescimento.”

O Vale

Periferia vão funcionar como mini shoppings

Os polos de negócios que a Prefeitura de São José dos Campos planeja implantar em bairros da periferia deverão promover a geração de renda e empregos nas comunidades locais.

Os empreendedores que forem selecionados pelo governo para montar pequenos negócios nos denominados Ceasp (Centro de Empreendedorismo e de Atividades Sócio-Profissionais) terão que, obrigatoriamente, abrir vagas de emprego para moradores dos bairros onde estão instalados os centros.

O primeiro Ceasp do programa “Nosso Bairro, Nossa Cidade” será implantado no Campo dos Alemães, na periferia da região sul.

O prefeito Eduardo Cury, em entrevista ao jornal O Vale, frisou que os espaços comerciais dos Ceasp serão destinados somente para moradores do bairro onde ele está instalado e que os empreendedores deverão assumir o compromisso de contratar mão-de-obra da comunidade local.

Relatou também que o poder público também irá incentivar a implantação de serviços como postos bancários e de correios nos bairros que não têm esses serviços.

Na avaliação de Cury, a unidade do Campo dos Alemães servirá para que o governo avalie na prática o funcionamento do projeto para eventuais ajustes nos demais centros.

A implantação do programa Nosso Bairro Nossa Cidade é um dos compromissos políticos assumidos por Cury na campanha à reeleição, em 2008.

Moradores e comerciantes do Campo dos Alemães aprovaram a iniciativa da prefeitura de criar um polo de negócios no bairro.

Também serão contemplados o Putim (sudeste), Parque Interlagos (sul), Jardim Mariana 2/Cajuru e Santa Inês (leste) e Altos da Vila Paiva/São Geraldo (norte).

Fonte: O Vale