Ponte com erosão na cidade deixa moradores com medo

Três pontes de São José apresentam sinais de erosão e os moradores dos bairros vizinhos temem que possam acontecer acidentes, como o desmoronamento na ponte da Avenida Guadalupe, na zona sul, que levou à interdição da estrutura por tempo indeterminado.

Da Avenida Mário Covas, também na zona sul, é possível ver que parte do barranco sob o viaduto Frei Galvão, no Jardim Satélite, cedeu. O buraco de cerca de três metros de profundidade e dois de largura deixa alerta quem passa sob a via. “Este buraco está assim há quase dois meses. Acredito que a água da chuva tenha infiltrado no solo, o que causou o desmoronamento”, afirmou a babá Rosely Toledo, 40 anos. O contador Marcos Aurélio Canavezzi, 40 anos, tem evitado passar sob a via. “Não sei o quanto pode ser perigoso. Como receio que algo aconteça, evito passar ali”.

O córrego Senhorinha tem sido o grande vilão para as pontes da zona sul. O trecho da Avenida Maurício Cardoso (Jardim Oriente) que passa sobre o rio, à primeira vista não apresenta problemas. No entanto, ao longo do curso d’água é possível perceber que um trecho de terra desceu rio abaixo.

“Passo todos os dias pela via e reparei que já há um buraco na parede de terra, lateral ao córrego. É assim que começa. Tenho receio de que ocorram desmoronamentos naquela área”, disse Canavezzi. A ponte da Rua Shigemasa Ota, no Jardim Terras do Sul, que já havia apresentado problemas no ano passado com desmoronamento da parede lateral do córrego e parte da calçada, também deu novos sinais de erosão. Uma faixa de grama e terra rente à estrutura da ponte escorregou com chuvas, criando buraco de cerca de um metro de profundidade.

Segundo Soraya de Paula Rosário, secretária de Obras, está sendo montada equipe para vistoriar pontes de São José. “A Defesa Civil fará levantamento de possíveis rachaduras e problemas em pontes e viadutos. Pretendemos atender os pontos críticos para evitar novos acidentes.”

Segundo a prefeitura, será feita nova vistoria na entrada e na saída da ponte da Avenida Guadalupe, que segue interditada após desmoronamento do último dia 22. A Sabesp já colocou novos dutos, o que evitará faltas d’água em caso de rompimento da estrutura da ponte. Previsões de custos e prazos para o término da obra serão determinadas até o final da semana.

O Vale

Publicado em: 02/04/2013

Serviço de Segurança Eletronica cresce devido ao medo

O aposentado R. C. P, 68 anos, paga cerca de R$ 20 mil por ano para a iniciativa privada para ter segurança, um serviço que deveria ser garantido pelo Estado. R. não é o único. Com a escalada da violência, as pessoas estão recorrendo cada vez mais a muros maiores, cercas elétricas e câmeras de vigilância. O mercado da segurança privada, cresce em média, 17% ao ano.

“As pessoas ouvem repercussão de outros crimes e tomam medidas excessivas. Isso prejudica a qualidade da vida. Muitas vezes, a pessoa não deixa os filhos saírem de casa por medo”, diz José Vicente da Silva Filho, consultor de segurança.

Na região, uma pessoa é vítima de roubo, furto ou sequestro a cada 12 minutos. Uma forma comum de abordagem é a pessoa ser rendida no portão da casa. A Engeseg, empresa de segurança que atua em São José, diz que houve uma mudança no padrão dos clientes atendidos.

“Antigamente, eram empresas que queriam tecnologia. O número de casas era ínfimo. Hoje, de 3.000 clientes, metade são casas que instalaram câmeras e alarmes”, diz Antônio de Pádua Oliveira, gerente de segurança eletrônica da Engeseg.

De acordo com a Sesvesp (Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Estado de São Paulo), em 2011, o setor de segurança privada empregava 3.549 pessoas em São José. Em 2010, o número era 2.784. “Este aumento é reflexo da legislação, que mudou e também do crescimento da economia. Se a economia cresce, aumenta também a contratação de vigilantes”, diz João Eliezer Palhuca, vice-presidente do Sindicato.

A casa onde R. mora com o pai, possui uma forte estrutura de segurança: muro de três metros de altura, câmeras e cerca elétrica em volta do terreno. Na rua, um vigilante é pago por todos os moradores para acionar a polícia em casos suspeitos. Além disso, a residência e os três veículos estão segurados.

“Se o ladrão pensar em olhar minha casa vai pensar duas vezes. Talvez decida roubar um local que tenha menos segurança”, diz. R. diz que a rua em que ele mora é tranquila, mas todos seus vizinhos investem em equipamentos de segurança.

“Quem quer ser assaltado? A gente sabe que a Polícia Militar não pode estar em todos os lugares. Então, prefiro não depender só dela”, d iz. A tecnologia permite hoje que a pessoa consiga ver do celular tudo que acontece em sua casa, em tempo real. Mas custa caro. Um kit básico com duas câmeras de segurança custa R$ 4.000 e mais uma mensalidade de R$ 150 para que a empresa de segurança faça o monitoramento.

“Ter segurança em casa era muito mais caro, mas agora está mais acessível. As pessoas investem nesses equipamentos para sentirem mais sensação de segurança e evitar o trauma de serem vítimas”, diz o gerente da Engeseg.

O Vale

Angustiados sem-tetos temem ficarem desabrigados

Sem nenhuma perspectiva para o futuro, dezenas, ou mesmo centenas de desalojados do antigo acampamento do Pinheirinho, fazem as mesmas perguntas: “Para onde eu vou? Onde vou morar? O que será do futuro dos meus filhos?”

A angústia dos sem-teto, alojados em abrigos da Prefeitura de São José desde a reintegração de posse do terreno do Pinheirinho, no último dia 22, começa pelo insucesso em encontrar um imóvel para alugar. Após deixarem suas casas no acampamento, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito de São José, Eduardo Cury (PSDB), prometeram um auxílio aluguel de R$ 500, até que os sem-teto sejam contemplados por um programa de moradia popular.

No entanto, os desalojados têm encontrado muita dificuldade para dar esse primeiro passo em direção à reconstrução de suas vidas. “Ninguém quer alugar dois cômodos por R$ 500. Ou eles locadores pedem fiador, ou dizem que só alugam para casais sem filho. Olha, de verdade, estou perdendo as esperanças”, afirmou a desempregada Fernanda Maria do Nascimento, 23 anos.

A administração de Cury diz que apenas uma minoria tem encontrado dificuldade em localizar imóveis, e prometeu despender recursos para auxiliá-las. Com olhar baixo, Fernanda simboliza muitos dos sem-tetos que conversaram com O VALE durante a semana passada. Mãe solteira, Fernanda tem dois filhos, Jadson, 4 anos, e Jardiel, 7 anos.

Foi em silêncio e com uma leve expressão de dúvida no rosto, que ela não conseguiu responder sobre o que espera do futuro. A única esperança é mantê-los na escola. “Para a minha terra não posso voltar. Lá é ainda pior. Vou ficar aqui, mas não sei como vai ser. Perdi o emprego, perdi todas as minhas coisas, roupa, móveis, uma TV e um DVD novinhos. Ficou tudo para trás”, lamenta Fernanda, que é nascida em Pernambuco.

Situação similar a de Fernanda, em que o desespero deu lugar à angústia, vive a desempregada Rosinda Benedita Leal de Faria, 43 anos. O marido, João da Silva Pontes, 33 anos, perdeu o emprego. O familiar mais próximo mora em Jambeiro, em condições precárias. “Não podemos levar mais problemas para Jambeiro”, explicou.

Para a Paraíba, estado de origem, a família também não quer voltar. “Lá é muito mais difícil. Aqui minhas filhas ainda podem estudar”. Rosinda tem duas filhas, uma com 13 e outra com 11 anos. Mais tímida, a filha mais nova, Maria, mal conversa. “Ela está traumatizada, não sei o que fazer, o que falar. Ela não entende o que aconteceu com a gente”, disse Rosinda.

O Vale

Após reintregração de posse, Zona Sul em estado de guerra

A zona sul de São José do  foi palco de um campo de batalha  ontem durante a desapropriação do Pinheirinho um embate que colocou moradores e policiais em lados opostos.

De um lado, os desabrigados  que no desespero colocaram ‘terror’ e saíram de moto nas ruas queimando carros e vans, jogando pedras para atingir policiais e depredando prédios públicos. Ao menos dez veículos foram queimados.

Do outro, a Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal que não hesitaram em jogar bombas de gás e de efeito moral para dispersar os moradores e acabar com as manifestações. Carros e vans de moradores foram queimados logo no início da tarde no Campo dos Alemães, Com Pedro e Jardim Satélite . Mais tarde, viaturas da Guarda  Municipal e até o carro oficiais de secretários do primeiro escalão do governo receberam pedradas e pauladas.

A Fundhas (Fundação Hélio Augusto de Souza) do Campo dos Alemães foi incendiada. Ninguém ficou ferido.
Um dos conflitos mais graves ocorreu no final da tarde, por volta das 16h. O advogado do movimento sem-teto, Antonio Donizete Ferreira, o Toninho, pediu para os moradores que aguardavam o atendimento resistirem a desocupação e invadirem as ruas.

“Eu prometi para vocês resistência. Nós estamos agora tentando suspender a reintegração em Brasília, mas ainda não temos resposta. Enquanto isso nós vamos encher as ruas e tentar atrasar a operação da polícia”, afirmou após subir no palco e reunir os moradores.

Em seguida, os desabrigados começaram a derrubar as grades que servem e apedrejar os guardas civis municipais. Em resposta os guardas usaram bombas de efeito moral e começaram a dar tiros com armas não letais.

O caos se instalou. Nesse meio tempo, um integrante do Movimento sem-teto foi preso pela guarda. O embate durou de 1h30, com banheiros químicos jogados no chão e quebra das caixas de som,  e acabou  suspendendo  o cadastro das famílias. O outro, por volta das 19h,  fez com que a equipe médica deixasse o local.

O Vale

Bairros vizinhos mudam suas rotinas por medo

A possível reintegração de posse da área do acampamento sem-teto do Pinheirinho, na zona sul de São José, gerou pânico na vizinhança. Em bairros como o Campo dos Alemães e o Residencial União, os moradores temem que o confronto entre os sem-teto e a Polícia Militar extrapole os muros da ocupação, onde vivem hoje cerca de 5.500 pessoas.

“Tenho medo que o pior aconteça”, disse a dona-de-casa Cristina Santos, 42 anos, que tem pais e sobrinhos vivendo como vizinhos ao acampamento. “O melhor é ficar dentro de casa e com os portões trancados. Não sabemos em que situação essas famílias irão deixar o local.”

Muitos vizinhos do acampamento não deixam mais os carros nas ruas, e comerciantes planejam baixar as portas dos seus pontos em caso de conflito. “Pedi aos meus clientes não deixarem o carro parado aqui em frente”, disse Valdemir Oswaldo, 48 anos, dono de uma funilaria.

“A gente tem medo que grupos de vândalos coloquem fogo nos carros dos clientes como forma de protesto.” Ele lembrou que os constantes protestos dos sem-teto tem deixado toda a região em clima de guerra. “A gente se sente amedrontado a cada manifestação. Ontem o trânsito foi interditado. Temos medo de que alguns grupos saiam quebrando tudo pela frente.”

No Residencial União, a situação não é diferente. Comércios estão baixando as portas mais cedo. “Sabemos que haverá confronto e já estamos fechando mais cedo”, disse o Carlos Andrade, 22 anos, que teme pelo comércio de sua família e também pela vida dos próprios moradores do acampamento.

“A gente espera que nada de ruim aconteça. Tem gente boa lá dentro. Alguns já trabalharam com a gente, mas é preciso resolver essa situação.” Na manhã de ontem, os sem-teto bloquearam a avenida do Imperador, no Campo dos Alemães, em frente ao Pinheirinho, por cerca de duas horas entre às 9h50 e às 11h45, horário em que foi realizada uma assembleia.

Com o uso de pedras e um caminhão, a via sentido bairro foi totalmente bloqueada levando os motoristas a buscarem um trajeto alternativo, inclusive os ônibus públicos. Lideranças sem-teto reconheceram o clima de terror na vizinhança. Mas afirmaram que as famílias do Pinheirinho também estão com medo.

“Todos estão com medo dessa carnificina. É uma insanidade uma desocupação como essa porque essas 9 mil pessoas irão ficar no entorno desses bairros sem ter onde morar”, disse o advogado dos sem-teto, Antonio Donizete Ferreira.

Para o líder dos sem-teto, Valdir Martins, o Marrom, o clima de terror não foi gerado pelo Pinheirinho, mas pela prefeitura, “que se recusa a colaborar para que o local se transforme em um bairro”.

O Vale