Sem nenhuma perspectiva para o futuro, dezenas, ou mesmo centenas de desalojados do antigo acampamento do Pinheirinho, fazem as mesmas perguntas: “Para onde eu vou? Onde vou morar? O que será do futuro dos meus filhos?”
A angústia dos sem-teto, alojados em abrigos da Prefeitura de São José desde a reintegração de posse do terreno do Pinheirinho, no último dia 22, começa pelo insucesso em encontrar um imóvel para alugar. Após deixarem suas casas no acampamento, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito de São José, Eduardo Cury (PSDB), prometeram um auxílio aluguel de R$ 500, até que os sem-teto sejam contemplados por um programa de moradia popular.
No entanto, os desalojados têm encontrado muita dificuldade para dar esse primeiro passo em direção à reconstrução de suas vidas. “Ninguém quer alugar dois cômodos por R$ 500. Ou eles locadores pedem fiador, ou dizem que só alugam para casais sem filho. Olha, de verdade, estou perdendo as esperanças”, afirmou a desempregada Fernanda Maria do Nascimento, 23 anos.
A administração de Cury diz que apenas uma minoria tem encontrado dificuldade em localizar imóveis, e prometeu despender recursos para auxiliá-las. Com olhar baixo, Fernanda simboliza muitos dos sem-tetos que conversaram com O VALE durante a semana passada. Mãe solteira, Fernanda tem dois filhos, Jadson, 4 anos, e Jardiel, 7 anos.
Foi em silêncio e com uma leve expressão de dúvida no rosto, que ela não conseguiu responder sobre o que espera do futuro. A única esperança é mantê-los na escola. “Para a minha terra não posso voltar. Lá é ainda pior. Vou ficar aqui, mas não sei como vai ser. Perdi o emprego, perdi todas as minhas coisas, roupa, móveis, uma TV e um DVD novinhos. Ficou tudo para trás”, lamenta Fernanda, que é nascida em Pernambuco.
Situação similar a de Fernanda, em que o desespero deu lugar à angústia, vive a desempregada Rosinda Benedita Leal de Faria, 43 anos. O marido, João da Silva Pontes, 33 anos, perdeu o emprego. O familiar mais próximo mora em Jambeiro, em condições precárias. “Não podemos levar mais problemas para Jambeiro”, explicou.
Para a Paraíba, estado de origem, a família também não quer voltar. “Lá é muito mais difícil. Aqui minhas filhas ainda podem estudar”. Rosinda tem duas filhas, uma com 13 e outra com 11 anos. Mais tímida, a filha mais nova, Maria, mal conversa. “Ela está traumatizada, não sei o que fazer, o que falar. Ela não entende o que aconteceu com a gente”, disse Rosinda.
O Vale