Com a subida do Dólar, preço do Pão Francês pode subir

O dólar comercial chegou a R$ 2,416 na venda ontem, no fechamento do mercado, e preocupou os consumidores. Acumulando alta de 5% desde a semana passada, a moeda americana pode provocar subida de preços na região. Segundo economistas, estão na mira os produtos importados, como azeites, vinhos e bacalhau, e os itens que têm toda ou parte da matéria prima vinda de fora do país, como o pão francês. Um dos principais ingredientes do pãozinho, a farinha de trigo, é parte importado pelos fabricantes e pode ficar mais cara a partir dos próximos dias. Segundo o empresário Emerich Mortl, da padaria São Miguel, em Santana, zona norte de São José, o preço do quilo do pão subiu cerca de 5% nos últimos dois meses por causa da variação da farinha de trigo.

“Na verdade, o preço da farinha aumentou 25%, mas nós repassamos apenas 5% para o consumidor. Não dá para colocar toda a variação no preço do pão”, disse. Com o maior valor registrado desde março de 2009, o dólar tem um duplo impacto no Vale do Paraíba. Segundo o economista Edson Trajano, a valorização da moeda americana abre a possibilidade de encarecer produtos, mas também traz mais rentabilidade às empresas exportadoras. “Quase todo o segmento de informática, por exemplo, depende de componentes importados. Os produtos podem ficar mais caros”, afirmou Trajano, que é pesquisador do Nupes (Núcleo de Pesquisas Econômico-Sociais), da Unitau (Universidade de Taubaté). O economista Roberto Koga chama a atenção para outros itens que subirão de preço com a alta do dólar, como as viagens para o exterior e a fatura do cartão de crédito internacional. “Quem gastou lá fora vai receber a fatura mais cara”, informou.

Segundo o diretor regional da Apas (Associação Paulista de Supermercados), Fernando Shibata, os consumidores ainda não se depararão com a elevação do preço dos produtos nos supermercados. “Entretanto, caso o aumento do dólar seja contínuo, em algum momento o fato vai impactar no bolso do consumidor”, afirmou ele.

Setor do Turismo fica preocupado com a Alta do Dólar

Dólar em alta, viagens ao exterior em baixa? Essa é a perspectiva das agências de viagens, caso a moeda norte-americana continue se valorizando. Algumas agências já sentem os efeitos do vaivém do dólar. Ontem, a moeda para o turismo oscilou entre R$ 2,20 e R$ 2,25. “Essa alta do dólar começou a assustar os turistas brasileiros que pensam em viajar ao exterior, principalmente no final do ano”, disse a gerente comercial da Magictour, Viagens e Turismo, Carolina Beluco. A executiva afirmou que as empresas também podem reduzir as viagens corporativas ao exterior se o dólar continuar com oscilação em viés de alta.

“Normalmente, quando isso ocorre, as viagens corporativas são reduzidas, para contenção de gastos”, disse Carolina. “Muita gente que pensa em viajar nos próximos meses já demonstra preocupação”, relatou a consultora da FC Turismo, Andréia Strang Barros. Segundo ela, que pensa em programar passeios ao exterior para dezembro, por exemplo, pode ficar com o pé atras e até rever a viagem.

Proprietário da Vera Parodi Turismo, Daniel Parodi tem outra leitura da situação. Ele avalia que é preciso aguardar pelo menos mais 40 dias para verificar qual será o patamar do dólar. “Por enquanto, não sentimos alteração. Muita gente está comprado pacote para garantir promoções das operadoras”, afirmou. Ele relatou que muitas operadoras estão com ofertas e com o dólar “congelado” em torno de US$ 2. “Se realmente a moeda subir muito, as empresas aéreas, com certeza, irão baixar o preço das passagens, para não perder clientes”, disse.

O economista Luiz Carlos Laureano, do Nupes (Núcleo de Pesquisas Econômicas e Sociais), da Universidade de Taubaté, afirmou que, normalmente, dólar em alta costuma afetar o setor de turismo, os produtos importados e causar impacto na inflação. “No turismo, é preciso verificar o que é mais vantajoso: viajar para o exterior ou internamente”, disse. Já com relação a compra de produtos importados, o economista frisou que é preciso pesquisar. “A preocupação é o impacto inflacionário que o dólar pode causar por causa do encarecimento do preço dos importados”, disse.

Embraer tem redução de ganhos devido a crise e do Dólar

A Embraer, de São José dos Campos, registrou queda 73% no lucro líquido em 2011 na comparação com o ano anterior, aponta o balanço financeiro divulgado ontem à noite pela companhia.

A empresa obteve um lucro líquido de R$ 156,3 milhões no ano passado, ante os R$ 573,6 milhões de 2010. O balanço revela que a fabricante também entregou menos aviões em 2011. Foram despachadas 204 aeronaves contra 246 em 2010. A maior redução foi no segmento executivo.

Os dados mostram que a empresa registrou aumento da receita no período, mas também viu crescer suas despesas operacionais. A receita líquida do ano foi de R$ 9,8 bilhões, 5% maior que os R$ 9,3 bilhões do ano anterior. “Apesar do menor número de entregas nesse ano comparado ao ano passado, o mix de produtos foi mais favorável, com uma maior participação dos E-Jets em relação aos Phenom”, informa o balanço.

A Embraer aponta que a redução do lucro foi motivada por vários fatores. Entre eles, está a valorização do real frente ao dólar, que no período foi de 5% e impactou as despesas em moeda nacional. Em 2011, as despesas operacionais totalizaram R$ 1,697 bilhão, apresentando crescimento de 53% em relação ao R$ 1,112 bilhão registrado em 2010.

A empresa justifica o crescimento das despesas operacionais ao fato de a companhia ter feito provisões financeiras de R$ 465,3 milhões para cobrir eventuais perdas relativas às suas obrigações com garantias financeiras e de valor residual (RVG) oferecidas a agentes financiadores e clientes das aeronaves da família ERJ 145.

Ela relata no balanço que a AMR (American Airlines), que entrou em processo de concordata ao final de 2011, opera atualmente 216 jatos da família ERJ 145, por intermédio de sua subsidiária integral American Eagle, e sua decisão final de como gerenciará essa frota ainda está em curso.

“Para fazer frente a este cenário, a Embraer constituiu uma provisão de R$ 583,2 milhões”, informa o balanço. A Embraer relata ainda que há dificuldades com relação a uma frota de 36 aeronaves ERJ 145 que eram operadas pela Mesa AirGroup e que ainda não foram recomercializadas, sendo obrigada a fazer provisões financeiras de R$ 79,4 milhões para garantias financeiras e ajustes.

Outros principais indicadores financeiros da companhia registraram redução em 2011. O resultado operacional (Ebit) da empresa totalizou R$ 521,8 milhões em 2011, 24% menor que os R$ 685,6 milhões do ano anterior, gerando margem operacional de 5,3%, menor que os 7,3% de 2010. Já o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) atingiu R$ 923 milhões, 14% menor que os R$ 1,069 bilhão do ano anterior.

Em 2011, as exportações da fabricante totalizaram US$ 4,209 bilhões, colocando-a como a quinta maior exportadora brasileira, contribuindo com 1,64% para o saldo da balança comercial brasileira, informa o balanço.

O Vale