Sindicatos perdem espaço entre as famílias do Pinheirinho

A distribuição dos cheques do aluguel social e a promessa de novas moradias para as famílias removidas do Pinheirinho iniciou um processo de esvaziamento do movimento sem-teto de São José, liderado pelo PSTU e por dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos.

Diluídos em abrigos municipais e na casa de parentes, muitos desalojados não participam mais das assembleias convocadas pelos antigos líderes da ocupação realizadas sempre em um campo de futebol no bairro Campo dos Alemães.

A insatisfação dos ex-moradores do Pinheirinho começou com o próprio cumprimento da reintegração de posse da área, no último dia 22. A partir de então, muitas famílias começaram a se afastar do movimento. O discurso das antigas lideranças da ocupação, que pregava o enfrentamento, agora foca a unidade do grupo como garantia de que as promessas do Estado e da prefeitura serão cumpridas. Mas nos abrigos a insatisfação só cresce.

“As lideranças vieram aqui uma vez e não voltaram. Precisamos de alguém que lute por nós”, disse o pedreiro Cícero dos Santos, 42 anos, abrigado no Caic do bairro Dom Pedro. A atendente Leidy Jana da Silva, 22 anos, não quer mais experiências como a do Pinheirinho. “Estou perdida. Ouço boatos que podemos voltar para lá, mas não quero invadir mais nada. Até agora, não ouvi nada das lideranças.”

Outro sem-teto, que pediu para não ser identificado, revelou à reportagem que há uma resistência por parte das lideranças em deixar as famílias receberem benefícios como o aluguel social. “Agora meus filhos terão um lar, mesmo que seja alugado, mas poderão viver e ir para a escola”, disse.

Crença. Dos quatro abrigos montados pela prefeitura, as lideranças do PSTU mantém influência sobre dois: Jardim Morumbi e Vale do Sol.

“O pessoal líderes do movimento sem-teto vem todo dia aqui conversar com a gente. Às vezes, também dorme”, disse Tereza Ribnicker, 37 anos. “Eles vêm trazer as notícias sobre a regularização da área e ainda temos esperança.” Para o vice-presidente do PSDB em São José, Juvenil Silvério, o esvaziamento do movimento sem-teto ocorre porque as famílias estão sendo atendidas com o aluguel social.

“Quando o governo acenou com o aluguel social, deu às famílias esperança”, disse. “Pode até haver alguma resistência ainda, mas certamente são pessoas isoladas com outras motivações, que não a da moradia. Não existe mais o apelo pela moradia.”

Lideranças do movimento sem-teto afirmam que a motivação das famílias não é política, mas pela moradia. Para Valdir Martins de Souza, o Marrom, a pulverização dos sem-teto não afetou as mobilizações. “Estamos realizando assembleias locais e nada foi esvaziado. As pessoas estão vindo porque não confiam nas promessas do PSDB”, disse. “Estamos brigando por moradia e enquanto não houver uma política para zerar essa demanda, os movimentos sociais não irão acabar.”

O Vale