Referência no ensino de engenharia no país, o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), de São José dos Campos, se prepara para uma reformulação. Entre as mudanças estão a duplicação da capacidade de alunos formados, ampliação de sua estrutura física e alterações na formatação dos cursos.
Em entrevista a O VALE, o reitor do ITA, Carlos Américo Pacheco, explica que a discussão sobre como ensinar engenharia tem sido feita pelas principais instituições de ensino do mundo, a fim de formar profissionais preparados para “um mundo mais globalizado, com mais ênfase em inovação, diferente de 30 anos atrás”.
Pacheco, no comando do ITA há pouco mais de cinco meses, também falou sobre a parceria com o MIT (Escola de Engenharia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts), o reconhecimento do ITA no exterior e as principais dificuldades nessa fase de expansão.
Há uma definição sobre as novas áreas em que o ITA pretende atuar?
Temos algumas coisas que achamos que seja prioridade, mas acabamos de criar uma comissão que irá discutir essa estratégia de expansão. Ela será instalada em maio e tem um ano para definir o que vamos fazer. Temos algumas áreas que temos quase certeza que devemos atuar que são engenharia de materiais e de sistemas, mas ainda vamos discutir isso com mais detalhes. A grande discussão não é só da área que vamos atuar, mas de como estamos ensinando engenharia. Há uma ideia de aumentar o núcleo de disciplinas, diminuindo as áreas de especialização, mantendo por exemplo engenharia só aeronáutica, só mecânica, uma formação mais ampla (Hoje, o ITA possui graduação em engenharia aeronáutica, eletrônica, mecânica-aeronáutica, civil-aeronáutica, computação e aeroespacial).
Quem forma a comissão?
São nove membros internos do ITA e nove externos, formados por ex-reitores e professores conceituados. Posso citar alguns nomes como Alvaro Prata, da Universidade Federal de Santa Catarina, Brito Cruz, da Unicamp e Fapesp, João Fernando de Oliveira, do IPT, Reginaldo dos Santos, que foi reitor do ITA, Silvio Meira, da Universidade Federal de Pernambuco, e Emílio Matsui, da Embraer.
O MIT também participará desse processo?
Um dos temas da cooperação assinada com o MIT é sobre a renovação do ensino de engenharia que eles também estão fazendo. As principais escolas de engenharia tem feito essa discussão de como renovar o ensino para que o profissional que a gente forma esteja mais preparado para atuar no mundo que é diferente de 30 anos atrás, um mundo mais globalizado, com mais ênfase em inovação. Então, o MIT vai sim participar dessa discussão.
Como está a ampliação do campus para receber o dobro de alunos?
O projeto de licitação para construção dos novos alojamentos já se iniciou. Vamos lançar o edital daqui a um ou dois meses. O começo das obras está previsto para setembro ou outubro. Esse novo alojamento terá capacidade para 1.200 alunos (hoje, são 600), é uma obra que demora 3 anos para ficar pronto, dividida em três blocos (o novo alojamento terá 53 mil metros quadrados. Já toda a obra da duplicação do ITA fica pronta em 3 ou 4 anos com laboratórios novos e células novas.
E o que será feito com o atual alojamento?
Será destinado aos alunos da pós-graduação, o que será um atrativo, pois hoje eles não têm esse alojamento.
Quando o ITA estará pronto para receber maior número de alunos?
No próximo vestibular, sem ser este (de dezembro), já vamos para 240. E em cinco anos alcançamos a capacidade máxima, pois, a cada ano, 120 novos alunos vão entrando e demoramos cinco anos para formar uma turma. Por isso, esse aumento será gradual.
Hoje, há mais competição pelos melhores alunos com universidades do exterior?
Acho que há uma diferença no perfil dos alunos que recebemos hoje em relação a antigamente que é o grau de informação que eles têm. Eles são mais globalizados. Muito pouca gente sai para fazer uma graduação no exterior. Sinceramente, acho que não é muito vantajoso. Recebi aquele aluno que passou aqui e foi para Harvard e conversei com os pais dele. É muito melhor fazer a graduação no ITA e eventualmente fazer um doutorado ou pós doutorado no exterior. Em nossa ida a Boston (EUA), um professor do MIT disse claramente que o ITA seleciona melhor seus alunos que o próprio MIT. O ITA não deve nada para universidades de fora pela qualidade dos seus alunos de graduação.
E como estimular esses alunos a permanecerem no Brasil e atuarem no país?
O ITA forma engenheiros muitos especiais, muito bem preparados. Nosso problema é estimula-los a trabalhar no Inpe, na Embraer, nos institutos, nas empresas. Nós queremos fortalecer esse cluster aeroespacial. Essa é nova missão principal. Os institutos precisavam ter um plano de renovação no quadro de pesquisadores. Isso vale para o ITA, o Inpe e o DCTA. Para sermos atrativos, teremos que mostrar o quão interessante é trabalhar nas instituições, não apenas por salário, mas por motivação.
O Vale