Devido ao novo Projeto, Prefeitura fecha o último abrigo

A Prefeitura de São José dos Campos começou a desativar ontem o último abrigo destinado a receber famílias do Pinheirinho, que foram despejadas no dia 22 de janeiro pela Justiça. Instalado no ginásio poliesportivo do Jardim Morumbi (região sul), o abrigo provisório deve ser fechado totalmente hoje com a remoção de seis famílias e mais quatro pessoas.

O grupo será alojado provisoriamente em uma pousada próxima à Rodoviária Nova, no Jardim Augusta. Inicialmente, as famílias, um total de 18 pessoas e mais quatro adultos que estão sozinhos, seriam levados para o CEC (Centro de Emergência e Calamidades), no Monte Castelo, região centro. No entanto, o grupo se recusou a ir para o antigo albergue municipal. Segundo a SDS, as famílias se recusaram a dividir espaço com moradores de rua, que diariamente dormem no CEC.

Ontem, funcionários da prefeitura e da Urbam (Urbanizadora Municipal S/A) passaram o dia limpando parte das instalações e removendo pertences das famílias. De acordo com informação da Secretaria de Desenvolvimento Social, a prefeitura irá continuar prestando auxílio às famílias até que elas consigam um local fixo para morar, com a ajuda do aluguel social disponibilizado pelos governos estadual e municipal.

“Vamos continuar o trabalho auxiliando as famílias a encontrarem casas para alugar”, disse Maria Quitéria de Freitas, diretora de Desenvolvimento Social da pasta. O abrigo do Jardim Morumbi é o maior dos quatro locais preparados pela prefeitura no fim de janeiro para receber os ex-moradores do Pinheirinho. Cerca de 120 famílias ficaram alojadas no ginásio.

Os ex-moradores do Pinheirinho estão recebendo aluguel social no valor de R$ 500 por mês. O benefício será pago até que todos sejam contemplados com novas moradias no programa habitacional. Ao todo, cerca de 1.300 famílias viviam no Pinheirinho.

Não muito longe do abrigo, entidades sindicais e partidos de esquerda promoveram ontem à tarde um ato-show para celebrar os oito anos da ocupação, que seriam completados no último dia 26. O evento aconteceu em um terreno público conhecido como “Campão” embrião do acampamento do Pinheirinho.

“É um ato de resistência, de para dizer que vamos continuar lutando por moradia”, afirmou Antonio Donizete Ferreira, o Toninho, advogado dos sem-teto. A previsão era que o show terminaria por volta das 22h. Ao todo, 14 bandas participariam do show. A atração principal seria o rapper GOG. Entre as apresentações, lideranças sindicais fariam discurso.

A Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Campo dos Alemães, está convidando ex-moradores do Pinheirinho para um encontro com 12 psicólogos. A reunião acontecerá no próximo dia 12, na Igreja Matriz. O encontro foi dividido em duas partes: com crianças será às 14h30 e com os pais, às 19h30. O objetivo é oferecer orientação às famílias.

O Vale

Completam 1 mês os moradores do Pinheirinho no abrigo

Um mês após a reintegração de posse do Pinheirinho, mais de 300 ex-moradores da área permanecem alojados de forma improvisada em abrigos da Prefeitura de São José dos Campos. Eles reclamam de dificuldades para alugar imóveis com o auxílio-moradia de R$ 500 por mês oferecido pelo município em parceria com o governo do Estado.

Outro entrave seria a necessidade de comprovante de renda e do pagamento antecipado de três meses de aluguel, exigidos pela maioria das imobiliárias. A área do Pinheirinho foi desocupada pela Polícia Militar no dia 22 de janeiro, em cumprimento a uma ordem de reintegração de posse expedida pela Justiça em favor da massa falida da empresa Selecta, dona da gleba.

No próximo dia 28, o acampamento completaria oito anos. Cerca de 1.300 famílias viviam na área. A prefeitura montou quatro abrigos em ginásios para acolher os ex-moradores do Pinheirinho. Dois deles permanecem abertos, nos bairros Jardim Morumbi (onde estão 137 pessoas) e Vale do Sol (que concentra outras 168).

Os sem-teto reclamam da alimentação oferecida pela prefeitura e das condições precárias de higiene dos locais. “A prefeitura deveria dar três cheques de uma vez ou ser a nossa fiadora. Ninguém está aqui porque quer. A gente precisa”, disse o auxiliar de manutenção Cícero Lopes, 39 anos.

A operadora de telemarketing Rosalva das Graças Silva, 55 anos, diz que conseguiu um imóvel, mas não o cheque do aluguel social. A demora, segundo ela, fez com que a casa fosse alugada para outro. “Eles fizeram uma confusão e colocaram meu nome em dois registros diferentes.”

O líder do movimento sem-teto, Valdir Martins, o Marrom, endossa as críticas. “A prefeitura só oferece o necessário, que é almoço e jantar. Até de leite agente precisa de doação”, afirmou.  A prefeitura promete começar hoje uma força-tarefa para fechar os abrigos restantes em até três semanas.

“Quarenta servidores vão fazer um trabalho especial com cada uma das famílias para resolver o problema delas”, disse o secretário de Desenvolvimento Social João Francisco Sawaya de Lima, o Kiko. “Se necessário, o albergue também poderá ser usado para abrigar essas pessoas.” Kiko ressalta que as famílias alojadas nos abrigos representam menos de 10% do total. “O saldo é positivo. A assistência que a prefeitura oferece é de primeira qualidade.”

O Vale

Famílias do Pinheirinho se mudam para casa de Parentes

Ex-moradores do Pinheirinho contemplados com aluguel social pela Prefeitura de São José dos Campos se mudaram para casas de amigos e parentes. É o caso da família da dona de casa Maria José de Almeida, 62 anos. Ela deixou o abrigo da prefeitura para ir para a casa de uma amiga no Jardim Itapuã (zona leste). Junto, levou 16 pessoas.

“Sou eu, mais a família dos meus três filhos. Ela é nossa amiga e nos acolheu. Estamos procurando casas, mas está muito difícil”, disse. A gerente de vendas Elenita Saladin, 42 anos, diz que abriu as portas de sua casa para amenizar o sofrimento da família. “Uma delas foi minha babá por 14 anos. Não podia abandoná-la nesse momento.”

Pelo menos 140 famílias sem-teto ainda estão nos dos ginásios do Dom Pedro 2º, Jardim Morumbi e Vale do Sol, todos na zona sul. A meta é que até o final de semana o ginásio Ubiratan, no Dom Pedro, seja fechado. “Temos 10% das famílias em abrigos e esse número já era esperado. São famílias mais simples e com menos referência na cidade, e isso tem gerado maior dificuldade na locação de moradias”, disse o secretário de

Desenvolvimento Social, João Francisco de Sawaya Lima, o Kiko. Ontem, a prefeitura designou 30 servidores municipais para acompanhar as famílias em imobiliárias da cidade. “Nossa expectativa é que essas famílias consigam garantir uma casa. As pessoas ficam olhando só na zona sul, mas tem imóveis em outras regiões”, disse.

Ao todo, já foram distribuídos 1.033 cheques no valor de R$ 1.000 (R$ 500 do aluguel social e R$ 500 de auxílio-mudança). Foram cadastradas 1.250 famílias sem-teto. A Asseivap (Associação das Empresas Imobiliárias do Vale do Paraíba) informou que apenas 10% dos 3.550 imóveis disponíveis para locação no mercado estão dentro da faixa de R$ 500.

Segundo a entidade, em 55% dos contratos o locador do imóvel exige fiador, o que dificultaria a negociação com ex-moradores do Pinheirinho.

O Vale

Para a volta do funcionamento, abrigo é desativo na cidade

A Prefeitura de São José decidiu transferir os ex-moradores do Pinheirinho alojadas no ginásio do Caic do Dom Pedro 2º para outros abrigos municipais. O objetivo é liberar o prédio para o retorno escolar de cerca de 900 crianças. As aulas foram retomadas pela rede municipal no último dia 6, mas no Caic serão iniciadas com pelo menos uma semana de atraso.

No local, ainda vivem cerca de 50 famílias sem teto. Muitas delas não pretendem deixar o abrigo em razão da dificuldade para alugar um imóvel com o valor do auxílio-moradia oferecido pela prefeitura (R$ 500 por mês, mais cota única de R$ 500 a título de auxílio-mudança).

“Não adianta pegar o cheque se não temos para onde ir. Estamos procurando um lugar para ficar, mas não encontramos”, disse o desempregado Fabricio Silva de Souza, 25 anos. Junto com sua mulher e dois filhos, ele divide uma das 14 salas de aula do Caic.

Souza deve ser transferido para o ginásio de esportes Ubiratan Pereira Maciel, também no Dom Pedro, até amanhã. No local, vivem outras 32 famílias. Lá, a história de Souza irá se somar a de outras famílias abrigadas que afirmam passar pela mesma dificuldade.

No Jardim Morumbi, a situação se repete. O motorista desempregado Dirceu José da Silva, 48 anos, tenta, sem sucesso, encontrar um emprego e uma casa para morar. “Não tenho fiador e não consigo alugar uma casa. Também estou procurando emprego, mas eles tem preconceito com quem morou no Pinheirinho. O nosso medo é nos mandarem para a rua.”

Ao lado dos colhões de Dirceu, o jovem Bruno Fernando Ganso, 15 anos, enfrenta um outro desafio. Sozinho, ele acabou de passar por uma cirurgia de apendicite e depende dos cuidados de outros sem-teto para se recuperar. Sem poder se inscrever no programa do aluguel social, ele teme ser colocado na rua. A mãe está presa e ele não conhece o pai.

No abrigo, as críticas com relação à falta de infraestrutura continuam. Mães reclamam que não podem fazer a mamadeira de seus bebês e da falta de frutas e refrescos para os pequenos durante as tardes quentes. As crianças não entendem porque as piscina poliesportiva ficam trancadas. Procurada, a prefeitura não comentou os casos.

Ao todo, cerca de 200 famílias sem-teto ainda estão alojadas nos quatro abrigos públicos Caic e os ginásios esportivos do Dom Pedro 1º, Vale do Sol e Morumbi. O líder dos sem-teto, Valdir Martins, o Marrom, disse que a transferência das famílias reflete o despreparo da prefeitura no acolhimento. “É um absurdo transferir de um abrigo para outro. O acolhimento não foi preparado como disseram. Fizeram a desocupação as pressas e sem se preocupar com as pessoas.”

O Vale

Abrigo que abriga famílias do Pinheirinho, fica super lotado

A falta de estrutura do ginásio do Jardim Morumbi, na zona sul de São José dos Campos, fez com que os sem-teto alojados no local improvisassem novas “moradias” com barracos de lona. A justificativa, segundo eles, é a falta de espaço para abrigar todos que estavam, até semana passada, dormindo em uma igreja.

Muitos sem-teto criaram em uma parte do complexo, onde deveria ser um campo de futebol, barracos com lona, pedaços de madeira e plástico. No local é possível encontrar animais ontem, havia até um porco no local. Em cada uma das moradias, que possuem luz elétrica e até televisão em alguns casos, vivem pelo menos cinco pessoas, como é o caso da auxiliar de serviços gerais Maria Natalia Damasceno, de 25 anos.

Ela mora em um dos barracos com o marido e a filha de 5 anos, mais a cunhada com o marido e a filha, totalizando seis pessoas. “Ontem anteontem a gente começou a construir isso aqui porque não tem como ficar lá dentro do ginásio. Está lotado”, disse. “A situação está tão precária que está uma confusão geral, para tomar banho principalmente”, completou.

Uma das vizinhas de Maria Natália é a doméstica Cícera Esmeralda de Sousa, 29 anos, diz que está doente, assim como os dois filhos. Segundo ela, a causa seria a comida servida no alojamento. “Tem um filho meu que está doente, eu também estou. Meu outro filho comeu a comida servida aqui várias vezes e passou muito mal”, disse.

Quem não conseguiu pedaços de madeira para construir o barraco, teve que construir uma moradia usando plásticos e lona. Foi assim que a faxineira Joana D’arc de Moura, 43 anos, fez um lugar para dormir com o marido, os dois filhos e um cachorro, aproveitando parte da cobertura da raia de malha do poliesportivo.

“Não tinha outro lugar para ficar, aí arrumaram uma lona e plásticos para mim, eu pendurei no telhado e coloquei a cama. O problema é que a gente passa muito frio à noite”, disse Joana, que teria perdido o emprego por causa da reintegração de posse.

Assim como Joana, o caminhoneiro Luiz Gonçalves dos Santos, 45, também perdeu o emprego com a ação no Pinheirinho. “Fiquei sem trabalhar na semana passada e fui demitido”. Agora, ele, a mulher e os três filhos de 9, 13 e 16 anos, dividem o vestiário do complexo esportivo com outros sem-teto.

O local, que também recebeu adaptações elétricas, tem três janelas, todas com os vidros quebrados. Quando chove, o casal, que dorme na área onde ficam os chuveiros, acaba se molhando. “Estou doente por causa disso. Essa situação não é humana”, disse a dona de casa Ana Vieira Campos, 35 anos.

O Vale