Mercado do lixo se desenvolveu e atrai investidores para cidade

A cena causou estranheza quando apareceu nos cinemas em 1985. Voltando do futuro, o cientista Emmett Brown parou o carro voador e encheu o tanque de lixo. O adolescente Marty McFly e a namorada espantaram-se diante da tecnologia. A cena do primeiro filme da trilogia “De volta para o futuro” já não é mais apenas obra de ficção. O mercado de tratamento de lixo se desenvolveu a ponto de transformar os resíduos em energia e de atrair empresas para o setor de tratamento de resíduos sólidos. Na Região Metropolitana do Vale do Paraíba, três empresas administram aterros sanitários e recebem cerca de 1.300 toneladas de lixo por dia de 27 das 39 cidades.

Os contratos geram às companhias mais de R$ 3 milhões por mês, valor multiplicado com o atendimento a outros municípios e empresas privadas. De acordo com analistas, o mercado brasileiro é de 64 milhões de toneladas de lixo por ano. Desse total, 58% estão em aterros sanitários, 24% em aterros controlados e 18% em lixões a céu aberto. Na RMVale, a imagem de famílias catando lixo nesses lugares desapareceu por completo. Segundo a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), todos os aterros sanitários da região são adequados e apenas um, o de Arapeí, ainda não conseguiu a licença de operação.

“Os marcos regulatórios no país desde 1998, quando poluir tornou-se crime, modificaram o mercado”, diz Alberto Fissore, diretor Comercial Público da Estre Ambiental, empresa que administra o aterro sanitário de Tremembé. O lixo deixou de ser reduzido a um problema dos órgãos públicos e passou a ser encarado como uma oportunidade de negócio. Portanto, daqui para frente, não se assuste se o frentista perguntar se você quer colocar no tanque do carro: álcool, gasolina ou lixo. Jorge Delgado vive do lixo. E não esconde isso de ninguém. Aliás, fala com orgulho da profissão. “Sou coletor de material reciclável, agente ambiental e negociante de resíduos reaproveitáveis. Pode escolher”, brinca o homem de 59 anos, que mora e trabalha na região sul de São José.

Ele é um dos “soldados” do exército de catadores de materiais recicláveis da cidade que, em um único dia, consegue recolher quase 80 toneladas de resíduos. O volume é maior do que a coleta seletiva da Urbam (Urbanizadora Municipal S/A) leva para o aterro sanitário do Torrão de Ouro, na região sul de São José. Os agentes ambientais da empresa coletam 50,8 toneladas de lixo reciclável diariamente. A estimativa da Urbam é que mais de 1.500 pessoas se envolvam com coleta de lixo na cidade. Levando-se em conta apenas o valor da latinha de alumínio, uma das mais valorizadas, esse contingente pode movimentar cerca de R$ 230 mil por dia com a venda de lixo. “Eu vivo muito bem com o dinheiro que ganho recolhendo lixo. Não é uma atividade para qualquer um, é pesado, mas recompensa quem trabalha”, ensina Delgado.

Na cadeia do tratamento de lixo, coletores e empresários estão em lados opostos, mas convivem no mesmo negócio. Não raro, os primeiros conseguem se dar bem a ponto de chegarem ao topo da escala social do lixo. Filha de catadores, Maria Amélia Batista, 52 anos, deixou São José como catadora e tornou-se uma pequena empresária em Belo Horizonte (MG). A cidade é referência na coleta seletiva e Maria Amélia aproveitou. “Juntei parentes e abri uma firma. Estamos faturando com o lixo”, conta ela.