A semana começou diferente em São José dos Campos. Ruas vazias, comércio fechado, carcaças de veículos queimados e um impasse que parece caminhar para o fim, após um domingo de tensão na comunidade do Pinheirinho. Após a desapropriação das famílias que moravam no local, os moradores do município e, principalmente, os desabrigados, tentam se acostumar com a mudança da rotina após as notícias que circularam nas últimas semanas.
A história do terreno particular, com um milhão e trezentos mil metros quadrados, envolve bem mais fatos do que a ocupação de 600 famílias, ocorrida em 2004. A área é particular, e faz parte do patrimônio da empresa Selecta S/A, que decretou falência.
Um dos sócios da empresa é Naji Robert Nahas, preso por crimes financeiros, como lavagem de dinheiro e desvio de verbas públicas para especulação financeira. Só a dívida da Selecta com a prefeitura da cidade chega a 15 milhões. A área foi avaliada pela Justiça Estadual em 180 milhões reais, e precisaria ser vendida para pagar a todos os credores.
Antes da desocupação, autoridades federais, como o senador Eduardo Suplicy (PT) e o deputado federal Ivan Valente (PSol), estiveram no local e tentaram barrar a decisão da Justiça do Estado, em um acordo com a massa falida da Selecta S/A.
“No sábado, o Suplicy esteve aqui e disse que os 15 dias ainda estavam valendo e que nada seria feito, isso nos deixou em clima de festa, tanto que no sábado o pessoal estourou todos os rojões comemorando. Mas aí no domingo cedinho, teve a invasão da polícia e não tinha rojões para avisar”, conta uma moradora desalojada do local.
Ela também descreve com tristeza os primeiros momentos da desocupação: “Você precisava ver, correria, homem, mulher, as crianças chorando… Já chegaram derrubando a igreja católica aqui e depois o barracão onde aconteciam as nossas reuniões.”
Veículos incendiados, ações rigorosas da polícia e famílias expulsas de suas casas percorreram os meios de comunicação, alcançando até mesmo a mídia internacional. Veículos como o The Guardian e a BBC, de Londres, deram ampla cobertura ao caso.
Nos bairros vizinhos, as pessoas evitaram sair de suas casas. No início da manhã, diversos pontos comerciais estavam fechados ou funcionavam com a porta parcialmente aberta.
Pessoas de outros bairros também foram afetadas, principalmente pela falta de transporte público. Um ônibus foi incendiado no domingo, e por conta deste acontecimento, as linhas urbanas mudaram seus itinerários e horários. Muitos trabalhadores chegaram atrasados ou faltaram ao serviço, por falta de ônibus.
A última decisão agora cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF). O órgão precisa avaliar se a ordem de reintegração de posse precisa ser decidida pela justiça federal ou estadual.
Mas o veredito não mudaria muito os fatos, já que, durante entrevista coletiva, o comandante da Polícia Militar informou a entrega do terreno à massa falida da Selecta ainda nesta terça-feira (24).