São José dos Campos precisa tomar uma decisão: crescer e garantir a qualidade de vida dos habitantes ou tornar-se um amontoado conflitante entre pessoas, veículos e edificações. Para arquitetos, empresários e urbanistas ouvidos pelo O VALE, o município está no limiar para responder à questão. O que se fizer a partir de agora terá repercussão pelas próximas décadas.
Nesse contexto, a arquitetura da cidade pode (e deve) contribuir mais para o desenvolvimento planejado, ousado e inovador da metrópole do Vale. É o que dizem os especialistas. É pouco o que foi feito até agora. Inspiradora, a arquitetura de São José tem em seu DNA grandes mestres do país, mas padece da falta de ousadia.
Arrojo que pode mudar o jogo em favor da qualidade de vida, diz Ricardo Veiga, considerado um dos mais importantes arquitetos da cidade. Para ele, antes de qualquer coisa, é preciso pensar em um plano de transporte de massa “ambicioso”, como um metrô de superfície.
“Se não incentivarmos as pessoas a deixarem o carro em casa, não haverá estrutura viária suficiente”, justifica, ponderando que tal plano deverá ser subsidiado pelo poder público. “Dizem que o metrô não é comercialmente viável, mas foi assim em todo lugar do mundo. Agora pense em São Paulo sem ele hoje em dia.”
Ainda mais crítico ao atual planejamento urbano de São José, o arquiteto Flávio Mourão aponta uma área sensível aos administradores e empresários: a integração entre espaço público e privado. Muros, barreiras fechadas e apropriação do espaço público pelo privado, segundo ele, são características de uma cidade que segrega cada vez mais seus cidadãos. “Ser sustentável não é só reaproveitar materiais e recursos, mas integrar as pessoas dentro da cidade.”
Ainda trabalhando aos 104 anos, mas atualmente internado em razão de uma desidratação, Niemeyer é autor do projeto que criou o DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). Levi é autor do desenho da casa Olivo Gomes, no Parque da Cidade, com paisagismo de Burle Max. O arquiteto também criou instalações para a Tecelagem Parahyba.
“Os modernistas Niemeyer e Levi, respectivamente representantes das escolas carioca e paulista de arquitetura, deixaram um acervo muito rico para os profissionais da cidade”, diz o arquiteto Ricardo Veiga. Segundo ele, a dupla deu impulso aos pioneiros da arquitetura feita na cidade, como Luis Erasmo de Moreira e Willi Pecher, ambos falecidos, e Rosendo Santos Mourão, em atividade aos 85 anos.
“Vim do Nordeste para trabalhar com Niemeyer no Rio e depois em São José. Acabei voltando à cidade e ficando de uma vez por todas”, conta Mourão, que projetou marcos da arquitetura moderna em São José, como o prédio San Marco, na avenida Madre Tereza.
Coordenador do curso de arquitetura da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), Emmanuel Santos também coloca o arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928), que projetou o Vicentina Aranha, entre as grandes referências da arquitetura na cidade. Para ele, tal acervo deixou de inspirar os projetos nas últimas décadas. “Falta ousadia formal, estilística e estética, com raras exceções”, diz ele. Ele sugere a novos profissionais que não sigam apenas os “movimentos de mercado”.
O Vale
Publicado em: 22/10/2012