Encontrar formas limpas, seguras e consistentes de gerar energia elétrica sem queimar combustíveis fósseis é o desafio que pesquisadores da Região Metropolitana do Vale do Paraíba resolveram encarar. As universidades e principais faculdades da região investem em projetos de energia renovável de olho no setor que, para analistas, movimentará mais de US$ 300 bilhões no mundo até 2020. Pesquisador da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), Rodrigo Sávio Pessoa está envolvido no desenvolvimento de um sistema que transforma cinzas tóxicas em um material vitrificado, que pode ser aplicado na construção civil.
O projeto, que une pesquisadores da universidade e a empresa VTX Desenvolvimento Tecnológico, foi batizado de Vitrinsol e recebeu aporte de R$ 4,499 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em outubro do ano passado. Segundo Pessoa, o sistema queima cinzas que sobram da incineração de resíduos sólidos e as transforma em plasma. Resfriado, o plasma torna-se vitrificado e pode ter várias aplicações, como na formação de blocos para construção. “Estamos numa fase inicial, na prova de conceito e na infraestrutura do sistema”, diz o pesquisador. “Em outro momento, os gases resultantes do nosso processo poderão abastecer usinas e gerar energia”.
O projeto pioneiro, sob a orientação do professor Homero Santiago, servirá de modelo a prefeituras que planejam construir usinas similares para queimar o lixo. “Há contribuições ecológicas e sociais. Solução segura para as cinzas e aumento da oferta de materiais de pavimentação de baixo custo”. Diretor da VTX, Marco Antônio de Souza projeta o produto no mercado no segundo semestre de 2015, permitindo faturamento de R$ 1,6 milhão até 2017. “O mercado de tratamento térmico do lixo é nascente e com potencial de escala”. Muita gente não sabe, mas as placas fotovoltaicas, que captam a luz solar para gerar energia elétrica, não gostam de calor. Elas preferem climas mais frios. Nos trópicos, como no Brasil, tais placas têm vida mais curta.
Para resolver o dilema, os professores e pesquisadores Ederaldo Godoy Junior e José Rui Camargo, reitor da Unitau (Universidade de Taubaté), criaram um módulo do tamanho de uma foto 3×4 para “roubar” o calor da placa fotovoltaica e produzir energia elétrica. A ideia ganhou o Energy Globe National Award Brasil, entregue em junho deste ano pelo governo da Áustria. Vai agora defender o país na etapa mundial do prêmio. “A placa não esquenta, tem a vida útil aumentada e o módulo gera energia”, explica Godoy Junior, há três anos debruçado no sistema.
Outra fonte de energia limpa desenvolvida na Unitau é a biomassa, que converte esgoto em biogás e, depois, em energia elétrica. “Comecei a desenvolver no mestrado e fiz um projeto piloto com a Faculdade de Agronomia da Unitau”, diz Godoy Junior. “Há um campo grande de desenvolvimento nessa área”. Biodigestores também são a bola da vez para alunos e pesquisadores do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José, que estudam vários projetos de aproveitar resíduos e gerar energia. Os alunos Hygor Dupin, Felipe Villar e Alexander Cardoso ganharam um prêmio na Alemanha, em 2010, por desenvolver a ideia de uma borracha sintética para fabricar aquecedores solares. O objetivo, segundo o trio, é lançar uma nova concepção de aquecedores e democratizar o acesso à energia renovável.